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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Efêmero

Eis aqui um começo.

Sublime sensação de quero mais. Percepção do mínimo detalhe do outro, o outro aflorado em mim. Qu'est que c'est? Perco as palavras quando não devo... Outra hora elas voltam...

Ae, foi eu desistir de escrever que o termo surge de algum lugar: efemeridade! Voltemos, oras pois, sobre o efêmero. Algo passageiro, de constância não necessariamente definida, algo que é destinado a cessar-se. Resume-se bem em momentos, pela duração e transitoriedade, e perpassa nosso cotidiano quase que num piloto automático: apreciar a transição não é algo que seja comum, justamente por ser tão comum a tal transição – me permito o uso disfarçado do princípio de identidade, outra conotação para o óbvio.

Fato é que, se num primeiro momento a mudança, o cessar ser, é algo tido como ruim (vide casais apaixonados), um segundo olhar compreende sua dinâmica e acaba percebendo-a natural, algo contra a qual não se luta. Pressupõe-se o velho grão de areia que vai ao mar quase que indiferentemente aos seus pares, nossa pequenez para mudar algo no mundo a não ser nós mesmos. Se a plenitude é a meta do ser humano, ela não o é sem considerar nossa realidade mundana, corrosível, findável. E justamente nessa consciência reside toda a nossa grandeza, a saber: o direito a optar por esta ou aquela mudança, optar em como lidar com elas em diferentes contextos.

Posso aqui parecer arrogante? Afinal, poucos sensatos chegaram a definir a natureza humana em seu ideal ao longo do tempo. Mas algo me diz, na condição de humano, que tenho o direito de me pensar, e isto sempre me leva a colocações de amor à humanidade, ao seu mundo. Ao homem, quem deu o direito de nascer e morrer? Sem a busca dos princípios últimos, digo que os próprios homens decidem sobre a vida, e haja responsabilidade! Somos nós quem lidamos com a morte, não Deus. Somos nós quem precisamos passar uma vida nos indagando a existência, não Deus. Somos nós quem nos inundamos de prazer e dor, nas facetas mais diversas possíveis. Como então não amar ao homem, como não amar minha condição humana? Pois é nesta condição de mutante e aberto ao mundo em que me realizo, e tenho a mínima noção de quem sou. E abrir-se ao mundo consiste, em outras palavras, na apreciação do efêmero...

Quão efêmero o sussurrar no escuro de um cinema... ou de um toque de mãos... bom, são só pensamentos passageiros de um grão de areia. Faz parte.


2 comentários:

Anônimo disse...

É um lindo texto, Marco!
Acho que o desprazer que muitos sentem em viver, ou o não saber apreciar a vida, está justamente em não saber lidar com o efêmero. (E apesar de isso ainda ser uma meta pra mim, sei que ainda em muitas vezes eu também não sei lidar com isso.)
Só queria fazer uma observação.Quando você "diz": "nossa pequenez para mudar algo no mundo a não ser nós mesmo" lembrei-me de uma frase de Chico Mendes que diz:
"No começo pensei qye estivesse lutando para salvar as seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade."
Mais uma vez, quero dizer que adorei o texto. :]

Marco Fabretti disse...

:)