Estive pensando, nestes últimos tempos, de como me  previra quando chegasse à idade que tenho: formado, namorando, com meu  carro ou minha moto 450cc, emprego fixo e prazeroso, grau de satisfação  entre 8 e 10. Bom, percebe-se que eu me imaginava bem mais fodão do que  realmente me tornei. Me imaginava um adulto, sem espinhas na cara,  timidez excessiva com as mulheres, amigos não populares e dependência de  meus pais; alguém que fora campeão de basquete numa competição  qualquer, fechou o terceirão com média alta e passou de primeira no  vestibular (quem dera isto fosse dificuldade em filosofia)...
Qual meu maior sonho até então? Mudar o mundo, de  forma ingênua, mas sincera – nunca fui dado a messianismo. Porque  existem cargos públicos? Ora, para eu ocupar, com minha reputação  ilibada, consciência social, vontade de crescer rápido e não permitir  mais ditaduras, planos econômicos absurdos, crianças no sinal e filas  nos hospitais. Era um esquerdismo naturalmente herdado dos professores  de história com os quais estudei, esquerdismo pragmático, de ação, como  me ensinou um dos poucos que devo e quero chamar meu mestre. Na época  Lula ainda era uma promessa, FMI era xingamento, o real era uma moeda  que eu achava “legal” (muito melhor que aquele monte de cruzeiros que  minha mãe me dava para comprar um salgado na cantina do Osvaldo Cruz), o  multilateralismo fazia parte da política norte-americana, brincar de  golzinho não era tido como infantil pelo sexo oposto, muito menos ver  desenhos japoneses, a Uem era uma grande pista para bicicletas  (pouquíssimos sabem que por alguns corredores conhecidos passavam piás  fugindo dos guardinhas e seus rádios sintonizados), e o Vanucci  apresentava Esporte Espetacular aos domingos depois de uma boa corrida  de fórmula um onde sempre faltava o Senna. 
Muita coisa dita, poucos significados né? É que  escrevo relembrando flashs back de alguns momentos, nada mais íntimo do  que isto. Espero que os que lêem agora compreendam que as crianças  sempre têm muita coisa para contar, e na afobação se precipitam.
Fato é que com vinte e dois anos (sim, eis minha  idade, nem boa, nem ruim) seria um adulto destes que aparecem nos  jornais, escrevem livros, decidem sobre como o trânsito de pipas pelo  céu é possível e sobre fazer ou não fazer guerra. E agora José,  (perdoe-me Drummond)? Ai, ai, este saudosismo um dia me mata.
Agora sou um acadêmico de filosofia, tenho um carro e  amo uma mulher: por mais tolo que amá-la possa parecer, por mais tolo  que se orgulhar de um gol 89 possa parecer, por mais tolo que sentar  numa sala num calor de 30 graus para falar sobre santo Anselmo possa  parecer (neste caso fico tentado em concordar). Tenho um emprego  estável, planos para um futuro não tão distante e embasbacado com  algumas coisas que me dão medo – sempre houve medo, possivelmente sempre  haverá em algum momento. Continuo a gostar de desenhos japoneses, jogar  golzinho ainda me apraz e andar de bicicleta na Uem é hobby escondido.  Ainda sou tímido com mulheres, meus amigos não freqüentam por vocação  locais aglomerados e da moda e continuo a outorgar aos meus pais algumas  responsabilidades. No geral, sou eu quem vos fala, seja com doze anos  ou vinte e dois – tudo isso para chegar à conclusão de que sou o mesmo. 
Quantos mundos conquistei? Mudei o mundo como  imaginava? Nem a pau, o mundo é que acabou me mudando. Mas mesmo mudado,  olhos fotos antigas e me vejo, ali, como se fosse hoje, tudo o que  senti e sonhei. Não nego que influi no mundo de alguém, mas como sempre é  recíproco me dou o devido perdão. Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me  chamasse Raimundo... levantaria dos livros e acertaria um “trabalho” com  uma mãe de santo contra essa praga que tanto incomoda seu autor! Mas  faz parte, diria Bambam, o filósofo das massas: Seu Carlos nem se  incomodaria com tamanha mixaria, e acabaria me mandando procurar alguma  anca larga para me esconder – simples assim. 
Estou no grau 10 de satisfação? Nem a pau! –  parafraseando mais uma vez os trejeitos de um nobre colega. Para estar  neste grau deveria estar no mestrado, com um Civic na mão e ter  conseguido a proeza de compreender o coração de certa dama (e olha que  eu tento ein). Grau 9 talvez? Não, otimista demais. Pulando causos e  lorotas, um grau 7 é de bom tamanho. Se a maioria das coisas não são  como nós queríamos, grande parte das surpresas que elas nos reservam  podem trazer coisas boas, depende só de postura, ponto de vista. Além do  que, ter que estudar como um louco e trabalhar para manter a loucura em  dia toma muito tempo para divagações como esta, incluso amor e coisas  afins. 
Afinal, algumas coisas nunca mudam. Desde um sorriso  dado de bom grado a um poema de Drummond. É só aprender a lidar com  elas.
Deveria eu fazer agora um "Aos 24"? Nem... quem sabe nos 25... 
5 comentários:
obrigado pela parte que me toca em: "amigos não populares"
obrigado pela parte que me toca em: "amigos não populares"
ce vai no juça, tem uma cb 500, e o que não anda faltando para ti, meu caro, são mulheres.
hauhaiuahiuahaiuhaa
parô o drama aeee! ¬¬
hauahuaihuaiha
Difiiiiiiiicil, Difiiiiiiicil num é...
Mas que entre: "Eu não acredito em filosofia no ensino médio" e "ahrrrrrr, Ahrrrrrrrr, (olhar perdido além do horizonte na janela e 5, até 10 minutos de silêncio)"....
Digamos que entre os "trancos e barrancos" exercitamos a paciência, a compreensão...enfim, é um curso Virtuoso por si, e por experiencia acadêmica, mais ainda, né!!!
Gostei dimais do texto, e eu ainda quero algo acima das 600 cilindradas...
Abraço camarada, obrigado por suas visitinhas lá no brogui!
Abç!
OO fran!!
esse olhar perdido além do horizonte tem quase um q de poesia, hauihauhauaha
e no fim, estamos nós cá, do outro lado do vestiba, o fim de curso... trancos e barrancos não faltaram :p
(ó, querer uma 1100 eu até quero, mas haja títulos para ganhar pra tanto, hehe)
e, imagina, ler teu blog é bastante agradável... criticas de forma muito bem elaborada.
Abraços!
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