O problema estabelecido foi: “por que se está na escola?”. Poderia-se traduzir por “qual é a função da educação?”, “qual é a função e valor da educação escolar?” “o que leva os seres humanos a colocarem seus jovens num regime de condicionamento físico e mental, muitas vezes tangenciando a opressão?”. Mais traduções seriam possíveis, ao gosto do freguês e sua própria visão de escola. O que importa é que a vivência escolar é um problema, ponto.
Ainda que crianças e adolescentes sejam mais ou menos adaptáveis ao regime escolar, dependendo de fatores variados, parte-se da premissa que a escola é um lugar, apesar da massiva propaganda que se impõe em contrário, chato e desnecessário para a maioria dos que a frequentam. Uma escola sem sentido, um lugar de autoridade que elas não reconhecem intrinsecamente, mas à qual são forçadas a se submeter. Um antro de práticas e ideias que, por muitas vezes, negam-lhe seus instintos mais vívidos, suas expressões mais coloridas, sua criatividade e autonomia. Onde são, muitas vezes, submetidas a várias formas de violências, das mais simbólicas até as que doem no corpo. Perdem sua infância aprendendo que a diferença machuca, o pensar crítico afronta, que, ao fim, não se furtam os humanos de explicitar todo traço de violência que lhe impôs a natureza. E aprende isso onde de fato deveriam aprender algo, algo que, todavia, não é ensinado. Todo um sistema castrador que se impõe desde cedo, e para o qual não há reação adequada, pois crianças não têm consciência do tamanho do problema, quem diria das soluções.
Mas, mesmo não sabendo sobre ele, sabem-se, conhecem-se, não podem fugir de si mesmas e daquilo que lhes confere existência. Acabam, a esta afronta de sua humanidade, reagindo da única forma que podem: reproduzindo a violência para se defender; aceitando com uma indiferença, às vezes passiva, outras ativamente desafiadoras, aquelas quatro horas que se lhe obrigam a cumprir. Refugiam-se em seus celulares, e, naquela fuga a um mundo melhor, ainda que virtual, acabam por não mais confrontar: o sistema ganhou, os professores podem dar suas aulas sem sentido à vontade, o silêncio imperará e não será um problema se neste espaço o conceito de escola se tornar um grande paradoxo. Talvez, em algum momento de lucidez, um destes alunos se pergunte: “afinal, por que estou aqui?”. E esta pergunta faria todo o sentido.
trecho de um trabalho entregue em disciplina do Mestrado Profissional em Filosofia da UFRGS.
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