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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Classe média

Vindo do blog do Lukas, este blog sobre a classe média que adicionei aos blogs seguidos... o Classe média Way of Life!

Abaixo, um dos textos de lá:

Dica 29 - Afirmar que não existe racismo no Brasil


Para se tornar um genuíno membro da Classe Média brasileira, você não pode ser racista. Simplesmente porque, na ótica da Classe, o racismo não existe no Brasil. Não existe privilégio para nenhuma raça, tudo se pode conseguir através do esforço e do trabalho, seja a pessoa médio-classista ou negra. Convença-se disso.

Racismo hoje, talvez só nos Estados Unidos. Ali sim já se praticou racismo "do bom", racismo "de raiz", onde qualquer um pode encher um neguinho de porrada ou atear fogo na casa dele quando quiser... Mas hoje, nem lá as coisas são como eram... o presidente deles é negro, então os negros não têm do que reclamar....


Tome cuidado! Essa história de cotas, de segregação racial, de discriminação e tratamento diferenciado não pode afetar sua culta percepção do mundo, a percepção de quem recebeu uma bela educação paga nos melhores colégios católicos. Você dever entender isso como mera coisa de livros de História, coisa que ninguém lembra mais, da época em que trouxeram os negros escravizados da África, situação que logo mudou quando a Princesa Isabel assinou a tal parada, e desde então brancos e negros têm acesso ao que quiserem em igual condição.

Para demonstrar a seus estimados colegas da Classe o quanto você faz por merecer a aceitação no grupo, discuta, sempre que surgir o tema, sobre como os negros simplesmente não querem estar na mesma posição dos brancos (lembre-se de representar uma "indignação analítica contida" quando disser isto). Você causará suspiros de admiração, será ouvido e respeitado por seus pares. Argumente que, se você conseguiu chegar onde chegou, qualquer negro também conseguiria, pois este é um país onde o mérito funciona e é a base de tudo. Diga que você acha estranho, mas talvez, por uma questão de gosto pessoal, eles prefiram jogar capoeira a ir para a Universidade (novamente contenha a indignação de palestrante culto). E dê o veredito: se os negros estão reclamando, botando a culpa nos brancos, querendo cotas, se organizando em grupos culturais, movimentos de ações afirmativas e bandas de música black, eles é que são racistas! (neste ponto, você fica autorizado pela audiência a ignorar a autocontradição).

Por fim, para dar o golpe de misericórdia e carimbar de vez se passaporte ao mundo da Classe Média, fale sobre sua relação com os negros. Decore: você não deve ter nada contra nem a favor deles. Você os trata como qualquer pessoa, e às vezes, com humilde magnificência, até dá bom dia ao jardineiro do prédio e à diarista. Você não namoraria uma pessoa negra, mas até daria uns pegas (se ela não contasse pra ninguém). Você acha que o Governo tinha que criar Escolas Técnicas para "capacitar" pessoas para o trabalho manual, o que é uma ótima alternativa para os negros arrumarem empregos. Defenda o ponto de vista que explica que as Universidades, as vagas de Juiz de Direito e a alta sociedade têm pouquíssimos negros apenas por coincidência, ou até mesmo uma questão estatística: eles existem mesmo em menor número, tanto que você quase não os vê nas festas que frequenta. E, no final, você deve rir dizendo que ainda tem gente que acredita nessa baboseira de "casa grande" e "senzala".

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