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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O messias



Está-se só no mundo. Fechado num quarto escuro onde algumas luminescências intermitentes brotam da própria cabeça. No momento em que esta luz fraca se propaga no quarto, percebe-se um universo todo – fechado, decerto, afinal a infinitude é inalcançável no grau em que uma mente fértil ansiaria alcançar...
A cena se repete tantas vezes que o mistério inicial a muita força e imaginação se mantém: sempre o quarto escuro, sempre a sensação de desespero, sempre as mesmas luzes fracas e intermitentes. Mas isto, ao menos, não é egoísmo. É o pleno conhecimento de como estar no mundo angustia se tivéssemos uma postura honesta para com a existência. E ai de quem não alcança conhecimento – felicidade é para crianças e tolos. Viver com a profunda chaga dos desejos nunca realizáveis, com a clara noção de que a ida ao outro é nada mais do que um se satisfazer e que a única opção justa é uma redenção na escuridão do quarto. Só assim se cria valores, se submete enquanto homem à noção de humanidade e a suplanta-a. No desespero, uma existência plena.


Grandessíssima bobagem. Há um valoroso sentido nisto tudo, mas somente quando esse pode sair do quarto escuro e retornar ao rebanho. A luz do mundo é maior do que algum pensamento forte que alguém preze possuir. Alegar humanidade real num quarto é teoricamente interessante, ainda mais quando se é jovem, mas tal humanidade não se resume a uma consciência clara da existência – a velha arrogância juvenil de saber tudo, mesmo que no caso seja saber que nada se sabe.


Lidar com o outro como igual, e não como bovino ou instrumento, deveria ser a meta de quem possui a consciência supracitada. Trancafiar-se no escuro e bebericar do desespero lúcido de um bom pensamento buscando nisto a redenção do homem ante aos deuses que nunca seremos: eis aí de fato um messias e sua vocação de mártir. Ou seria síndrome de JC?

4 comentários:

Rudah A. L. disse...

Síndrome de JC foi boa!

Eu ainda lembro o Popper comentando em alguma obra sua (quem lê pensa que eu lia várias obras do Popper... hahahahhahahahhaha) que o senso comum de sua época era bom para se ter como parâmetro, ou algo mais ou menos nessas linhas.
Eu concordo que a solidão do quarto é desconcertante (ou ainda Síndrome de JC), mas o rebanho deveria estar minimamente preparado. E isto não quer dizer que simplesmente por se saber que pouco se sabe (oq o rebanho ignora), é-se superior ao rebanho. Talvez mais esclarecido...
Como "alertar" o rebanho de suas condições?! Boa pergunta...


Abrçao!

Marco Fabretti disse...

Justamente por ser rebanho é que n está preparado, se ficarmos na redução destes termos simplemesmente para tocarmos o assunto. Mas a questão, que vc bem notou, é a idéia de superioridade. Uma coisa é uma noção mais ampla de algumas coisas, e daí bons e maus filósofos. Outra é, independente do estatuto do cérebro do sujeito, a arrogância em se considerar fora da humanidade. Lembra do mundo cor de rosa numa bola de cristal? Pense no contrário - praticamente um sujeito transcendental que observa de fora o mundo. Se arrogar disso, para mim, é tão justo quanto tosco.

Ah, e síndrome de JC não é termo meu, deves perceber.

abraço

Rudah A. L. disse...

Justo e tosco? Ao mesmo tempo?! Ainda to tentado entender o conceito, mas tudo bem...


Pensei justamente no sujeito contemplando a bola cor de rosa de fora (ou desesperadamente de dentro... haahhahahahhahahahahahaha), mas não achei uma boa figura pra isso.


Como assim não é termo teu? De quem é?


Abraço!

Marco Fabretti disse...

justo, por ser pessoal e cada um sabe o que faz da vida. tosco, pq é uma escolha tosca e limitada, como o texto tentou mostrar. sobre autorias, depois falamos.

abraço