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terça-feira, 11 de maio de 2010

Sobre mulheres (3)

A aula da tarde acabara meia hora mais cedo. Chuviscava e estava frio, parei no banco da saída do corredor para pensar o que faria. Esperar o ru abrir em uma hora ou ir à casa fazer um café quente para acompanhar as bolachas que a mãe mandou? 

Pensei também no que estudar nesta noite, guyer, kant, inglês ou um pouco de tudo.
E como seria amanhã, minha irmã chegando de viagem para conhecer o friozinho chato que não deixa em paz para marcar bem o outono. Nisto sai uma moça do corredor, vai de encontro a dois rapazes que esperavam no parapeito. Bonita. Melhor, charmosa. Bonita bonita é a Carolina Ferraz - se bem que é charmosa também, deixa pra lá. Branca, cabelos castanhos claros, óculos quadrados e grandes meio retrô, cabelo no pescoço com algo que meu pouco conhecimento de corte e costura chamaria de repicado nas pontas. Baixa, jeans e all star, blusa com grandes botões. Ah, e os óculos, o charme que tem. Claro que não são determinantes, nem o mais refinado deixaria bem alguém que deseja matar o mundo. Mas que complementam legal certos esteriótipos, isto complementam.

Enfim, das dezenas de rostinhos bonitos que passeiam pela urgs todos os dias, este me chamou a atenção. Me lembrou a Simone nos traços, nossa veterana. Eu sentado ali, vendo-a falar com os rapazes, um alto barbudo e magro e outro baixo, gordinho e de óculos. Aquele sorriso e os pés que se inclinavam sobre si mesmos, da menina, me trouxeram logo a pergunta: que tipo de homem ela considera interessante? Digo homem, não pessoa, pois pessoas achamos várias. Inclusive ela devia achar os dois rapazes. Mas e se ela tivesse que entregar seu coração a um deles, num mini drama mexicano inventado por mim, a quem ela o faria? Ao candidato a galã com uma calça de cintura alta e pose de comboy estadunidense universitário alternativo ou ao gordinho com roupas largas e cara de intelectual descolado que, para efeitos de roteiro, presumirei ser gente boa, caso nossa julieta não tenha queda aparente por gordinhos? 

Ou nenhum dos dois, e a cabeça da rapunzel estaria num outro rapaz que talvez nem conheça ainda? Talvez um tipo másculo e grosseirão, para contrastar com o ar intelectual que ela emana? Ou quem sabe nenhum dos três casos, sendo ela alguém desapegada de relacionamentos e interesses sobre.

A última hipótese seria extremamente chata. A graça toda, afinal, foi nesse tempo de meio minuto imaginar de quem essa menina poderia gostar. Flores, teatro, música? E o mais produtivo de tudo, constatar já olhando ela se afastar, que qualquer tentativa de compreender o que atrai uma mulher a priori é absurdamente nula no que se refere à efetividade. Ou seja, das milhares de tentativas de compreender e conquistar uma dama, o único aproveitável aí é a boa intenção do cavalheiro. Ela se apaixonará, certamente, por algo que é totalmente alheio ao alcance das previsões masculinas (nós e nossa visão limitada). C'est la vie.

Quase um exercício de auto análise.

2 comentários:

Herr Übermensch disse...

"Pois é, Kant assegurava a aplicação de conceitos puros a priori, as chamadas categorias, ao múltiplo da sensibilidade, e a partir da determinação realizada pelo entendimento podia construir juízos que por sua vez seriam pensados por uma faculdade silogística, a saber, a razão... E assim é possível o nosso conhecimento! Mas veja bem, conhecimento metafísico, só se for a partir de juízos sintéticos a priori, visto que os juízos analíticos nada acrescentam ao nosso conhecimento e os sintéticos a posteriori não dizem respeito senão à experiência." Bom papo para iniciar uma conversa com uma menina dessas, não achas meu amigo?

Eu já me interroguei da mesma forma que você, mas nunca obtive respostas satisfatórias para os meus questionamentos. Não sei bem... Sabe, se pá, o tecido espaço-temporal sofresse uma interferência e eu pudesse fazer certas coisas que guardo em meus pensamentos... E SE... Tão somente SE...

São tantos os nossos juízos hipotéticos, tão poucos os assertórios... sendo que muitas vezes terminamos nos infinitos. E a roda da vida não pára de girar.

Sua descrição de tal moça graciosa me despertou certas lembranças e pensamentos que há muito não me passavam pelo pensamento. E ao pensar nisso tenho uma intuição pura a priori de tal beleza. Aliás, será esse o meio que nós filósofos desenvolvemos para dispersar nosso pensamento da solidão a que nós próprios nos condenamos?

Mas enfim, sabias que há uma tradução para o português de um livro do Guyer intitulado "Kant"?

Perdoe-me os pensamentos soltos, mas por hora é tudo o que tenho.

Bons estudos!

Marco Fabretti disse...

Meu caro, a solidão n é sentença eterna.... diria que é uma das inúmeras coisas relativas que encontramos nesta nossa jornada.

quanto ao papo, acho que começaria com poesia ao invés de kant... vai que ela tem uma interpretação diferente da dedução transcendental, ein, hehehe... se for poesia, vc sempre leva pro lado subjetivo da coisa, até fingindo objetividade. :p

no mais, gostei de teu comentário, apesar de demorar a respondê-lo.

abraço!