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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Copo vazio


Ontem fui pela primeira vez para a cidade baixa na noite. O cris intimou para um aniversário de um grego, estrangeiro a dar com o pau, todos indo pra casa do lado. Antes, encontro na rua, calçadas cheias, letreiros, bares, casas noturnas. Ah, a maldita sueca que falava espanhol, huahaiuhaiuhaiuhaiuha.... 


Mas não entramos na balada... acabamos por jogar sinuca numa mesa grandona, quinze pila a hora. Acho que não vale comparar a noite daqui com a de Mgá. Seria covardia. O que posso dizer é que me senti bem num lugar onde tem um monte de gente na rua bebendo e conversando, com uma opção atrás da outra pra entrar e deixar os problemas de lado. Vários mundos possíveis, numa sequência. 

Hoje, acordamos meio dia, passei batendo na porta: vamo comê!!!!!!!!! Pedrão, francês, magnon, a patroa e o ítalo!!!!!!  AO GAÚCHO, oito pila e cinquenta, comida e suco a vontade. Tradição já dos sábados, mas que adiantamos pro feriado. O problema todo foi que o tal do gaúcho não gosta de trampar em feriado. Maledito! haiuhiahuaaiuhaiuhaiuha

Ao bourbon então, que de lá fazemos algo. Churrascaria facada, mó migué. O que valeu a pena foi a tarde no jardim Botânico! Dois passos nele, e deu uma vontade ficar ali pra sempre. São palavras fortes. São elas que me dão o título do texto. Me senti um copo vazio. Sem responsabilidades que me pesam às costas, sem brigas que não são minhas para que eu tenha que lidar. Sem ter alguém que precise de cuidados como uma criança. Sem relacionamentos que me levam para os piores lugares dentro de mim. Sem sonhos fúteis de moleque que foi mal educado e mimado, achando o umbigo o centro do mundo.

Fazia tempo que não me sentia assim. Pensando bem, nunca me senti. Como dizia para o sempre presente senhor Alves Leite (vo ter que mudar a nomenclatura, ou vai rolar direito de imagem já, hehe.. sem contar que Alves Leite é um bom nome para um embaixador... vejamos), é como se tivesse deixado em Mgá um copo cheio. Cada coisa que fazia era pingar no mesmo monte de água que já tinha passado pela mesma bica. E de vez em quando, transbordava. E de vez em quando, queria me ver num copo ainda menor, que encheria tão rápido que logo quereria outro. 

Mas vim pra Poa, e meu copo é vazio agora. É vazio, e grande. Vejo cada coisa aqui como uma criança. Tudo é novo. Cheiros, ventos, sóis, frios. Gentes, risadas, gritos, choros. O céu daqui também é azul. Mas debaixo dele tem cinema todo dia em sessões duplas só de Hitchcock, por exemplo. E gratuitas. E tem parque que não é fechado, e onde se toma chimarrão, toca-se violão, corre-se e levam-se os cães pra correr. Parque que tem pedalinho e mato e bicho, no meio da cidade que é gigante. Debaixo deste céu as pessoas vivem não para terem uma casa e trabalhar menos. Elas criam seus filhos em jardins botânicos onde o lago com cisnes negros está ao alance das mãos. E isso não é coisa de poeta, é o jeito de ver o mundo. Carro é utilidade, não meta de vida. A vida é muito curta pra vivermos confinados no caminho casa-trabalho, trabalho-casa, mulheres-objeto neste trajeto.

Aqui tem kendo também, e tem uma faculdade de filosofia que me faz feliz por não ter desistido de seguir este caminho quando o bixo pegou nos meus vinte anos. E essa faculdade tem mestrado e doutorado, e suas aulas são no meio de um pedaço de floresta. Ali, não se formam profissionais ruins. Ali há um peso no nome, uma responsabilidade de quem entra e de quem ensina. E velho, eu sou mestrando nesse lugar. Vejo aulas minuciosamente preparadas, dadas com prazer. Ao meu lado pessoas que aprendem com prazer. E eu não vou ficar pra trás de ninguém, não nasci pra isso. 

Nasci para ser bom, superar o que tiver que superar, pensar o mundo e viver segundo meus valores. Não sou tão relativista como posso parecer. E vejam só, meu copo agora é vazio. Posso enchê-lo da forma como achar melhor. Posso só estudar, sem ter que me preocupar com o porquê não ter nascido rico e como minha família vê alguém que escolhe filosofia e fica um ano estudando para um sonho de vida para uma vida que cansou de dar errada. Tudo isso superei, e Poa representa isto para mim. Onde eu posso chegar? Às vezes nem vo tão longe. Mas sei que posso, e isto é o importante. E posso olhar para aqueles que estão longe de forma diferente, sentindo o quanto são importantes para mim, e o quanto sinto falta deles. Meu copo cheio é tudo o que sou hoje. Ele não precisa mais transbordar. Agora tenho um copão para encher.

O jardim botânico, com o magnon, a denise, o cris, o pedro, o italo. cada um com o outro, cada um vendo um mundo diferente. cada um sem o peso de muita coisa além das próprias vidas. Bom bom. Realmente, posso viver assim para sempre. E ainda vem aí o apezinho, décimo quarto andar de cara com a ipiranga. Vansimbora!  :p

abaixo, uma músiquinha conhecida sobre sampa... mas tirando rita li e mutantes, representa bem oq sinto , poderia bem ser POA.. até a tal da ipiranga eu conheço, moro a vinte e cinco metros dela, hehe.. e pra compensar o nome da música, um intérprete meio fodão  :)

2 comentários:

Rudah A. L. disse...

Senhor Alves Leite?
Que história é essa? Pode citar o primeiro nome, mesmo! Até o dado momento eu juro que não vou te cobrar direitos autorais e afins...
hahahahahahhahahahahahahah
Eu que disse sobre copo cheio?

Afora as dúvidas e tudo mais.
Cara, o lance é que vc tá descobrindo um mundo que antes só era potencialmente. A atualização é sempre mais bacana doq a potencialidade para as experiências (tá, ser demitido não é tão bacana... ainda bem que só ficou na potencialidade da coisa).
Agora cabe a ti saber oq fazer com essas novas atualizações.
Do jeito que as coisas se encaminham, vai dar tudo certo.


Abraço!

Marco Fabretti disse...

bom saber da falha da potencialidade da demissão... primeiramente!

segundamente, gosto deste teu otimismo!

:p