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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Linha reta ou torta, num importa seu moço... no fim, elas tudo termina.

Depois de altos e baixos duma adolescência tardia, começa a desvanecer do meu mundo os becos sem saída. Parece que sigo numa linha, meio reta meio torta, mas que me deixa ver sempre adiante. É como se tivesse condicionado desde sempre a seguir por ali, me cabendo somente a opção de dizer não e criar um buraco na parede em volta.

Não há mais buracos, ou ao menos não permaneço neles muito tempo antes de perceber que são somente fugas da linha da minha vida. É claro que se valer a pena, abro buraco atrás de buraco, até o caminho entortar por onde eu quero. Mas o ponto não é esse, e sim que muitas coisas que considerei valer a pena antes não valiam, e hoje reconheço e mudo a postura. Madurecência, para ficar com possíveis neologismos.


Duas coisas são importantes nisso tudo. Uma é que no fim da linha, bem lá adiante, sinto que há um fim. Não, não finalidade última que tanto gostam os filósofos de todos os tempos e seitas. Fim de cabou, já era mermão, dá tchau pro mundo e torce para ter algo como um palco de blues, um dojo, um tabuleiro de xadrez e boa companhia lá encima, porque babau, ce morreu. Como explico esse sentir a morte? Parece sempre tão óbvia não? Nas formigas que pisamos, passáros que matamos, árvores que descuidadamente quebramos quando novas, nossos animais de estimação que geralmente morrem antes de nós. Ou a morte que se aproxima no círculo próximo das pessoas que amamos, seja lenta e avisadamente, seja brusca e dolorosamente.

Fato que todos esses casos são mortes dos outros, não a minha. Uma coisa é um kiai bem dado e um ponto tirado por dois grandes lutadores, outra é meu kiai falho e meu golpe leve: meu kiai e meus golpes são meus, indendentes dos adjetivos que posso lhes dar além desse. E assim me parece a morte hoje. Nessa linha não sinto a morte como a morte de outrem, mas simplesmente que um dia minha vida vai acabar. Como todos os outros em princípio, mas somente como a mim importa, pois sobre a vida de ninguém tenho responsabilidade tão pesada. Quando há essa responsa nascem os mitos, heróis ou candidatos a santos, me parece - me abstenho de julgar se é bom ou ruim.

A outra coisa importante é o mistério de como tudo isso está vindo à tona. Perceber que há um caminho é admitir ao mesmo tempo que ele sempre esteve lá. São coisas que não sei dizer. Posso só tentar, com minhas analogias que nem de longe engrandecem a língua mãe. Se antes havia esquinas e buracos, agora uma rua está à frente. Se antes me debatia com o mundo para forçar sua aceitação, agora isso não é mais importante, as coisas importantes tem um tempo diferente onde minha vontade só é mais uma entre tantas outras causas e desventuras. Deixo o tempo ir em frente, tocando os bois, levando o mundo na carroça. Eu vou ao lado, ouvindo o rangido em direção ao sol que se põe. Comigo vão as crianças matreiras da estrada, que me contam hora ou outra coisas de heróis e vilões. E às vezes paro num rancho à beira da estrada e deixo a carroça ir tocando. As pessoas que moram ali me dão café, um bolo de banana e me contam causos que valem a vida toda para ouvir, para que uma hora eu siga o caminho e alcance os bois.

Tem moças nas janelas das casas por onde passo. Tem flores castanhas e ruivas que ora ou outra apontam num descampado.

Sou o que sou, num caminho onde tudo o mais é algo em mim. E um dia, um dia o caminho se acaba seu moço. Pra nunca mais e mais além, sé que o sinhô pode imagina essas tal lonjura.

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