- Seis da manhã, acordo e lembro que é meu dia de folga. Lembro também que marquei (por livre e espontânea vontade) uma ida à escola atender um orientando. Me amaldiçoo a primeira vez no dia.
- Sete da manhã, finalmente exorcizo as mandingas brabas que me prendiam à cama, vou ao banho e ao café, o dia tá bonito e a Restinga é logo ali. A Poliana toma conta.
- Oito e vinte, entrada da segunda aula, chego à escola e vou atrás do meu caro aluno. Faltou à aula mesmo sabendo que faríamos o término do seu projeto - ou porque o faríamos. Lembro dos 50 minutos no ônibus e me amaldiçoo pela segunda vez.
- Oito e meia, se não tem tu vai tu mesmo. Estando na escola, tamu ae na atividade. Abri o note e comecei a gravar os dvds atrasados para os alunos que perderam um filme que passei. Fiz uma lista de coisas a fazer no dia: armar o passeio das c30s, armar a rifa, passar material para a SIR atender a Aline, fazer cópias de uma apostila de geografia para o cursinho, aprender como ministrar essa aula, dar essa aula às cinco, separar a apostila e organizá - la (ah, como eu queria uma máquina com classificador... e ah, sim, eu sou quase um perito em fotocópias) e, por fim, corrigir as provas finais sobre tabela verdade das C30.
- Nove horas, passo de sala em sala avisando que o cursinho vai ocorrer às sextas também, pois mais professores toparam o voluntariado. Retiro um dos amaldiçoamentos anteriores, estou feliz.
- Nove e quarenta e cinco, assumo o lugar da Pri na aplicação da prova dela para que ela possa trabalhar nas inscrições das oficinas referentes à semana da consciência negra. Fecho a porta da sala e recebo a primeira reclamação do tipo "até agora tava aberta"; respondo "agora não tá mais"; retrucam "professor chato"; confirmo "muito chato".
- Dez horas, é intervalo. Bato um rango, um papo e deixo a apostila para fotocópia.
- Dez e meia, apostilas copiando, dvds gravados, sentamos eu e o Joaquim para separar material de matemática e fazer um horário para os alunos. A mesa da sala dos professores começa a se assemelhar com a minha mesa do quarto: zona de guerra.
- Onze horas, começo a mexer com as apostilas.
- Meio dia, é almoço, hora de ir embora. "Ops, dessa vez eu fico", ir embora e chegar às duas em casa para voltar às quatro e chegar às cinco para o cursinho nem rola. "Permanecerei no meu dia de folga na escola" - isso soou, bem no fundo, como a terceira maldição, transformada em segunda pela anulação da anterior supracitada nestes autos.
- Meio dia e meio, vou almoçar no Parada 10. Poderia até comer ali na escola, mas já tava estafado da coisa. O lance era arejar a cabeça dando uma caminhada.
- Meio dia e meio e mais uns tantos, ligo para a Lígia para aporrinhá-la e incentivá-la a beber, sem moderação... porque irmão mais velho é pra isso ae, fraga?
- Uma e meia, retomo as apostilas, a sala dos professores à tarde é bem sussegada. Coloco com meta terminar até às três da tarde. Já sei que preciso preparar a aula, e isso implica em não fazer o material da Aline, não armar a rifa e o passeio e nem passar perto das provas a serem corrigidas.
- Duas e meia, a sala dos professores tá lotada de aluninhos fazendo prova na minha ilustre presença. É de matemática, tem um chará meu entre eles: "velho, representa bem a parada ae, honra o nome". Uma aluna que sentou-se do outro lado da mesa, à minha frente, recebe uma ralhada da professora: "você faltou 47 dias, é claro que não sabe como fazer". Acho cruel, mas na Restinga é assim.
- Duas e quarenta e cinco, a menina à frente finge que está fazendo os exercícios. Ela olha a tabuada, não vê nada. Vira a tabuada de trás pra frente, continua não vendo nada. Ela me vê observando e sorri sorrateira. Eu continuo sério, afinal sou professor e é prova. Mas sorrio por dentro. Ah, o Marco ao meu lado abandonou a prova, e foi encaminhado à coordenação... ferro a representação.
- Duas e meia, a sala dos professores tá lotada de aluninhos fazendo prova na minha ilustre presença. É de matemática, tem um chará meu entre eles: "velho, representa bem a parada ae, honra o nome". Uma aluna que sentou-se do outro lado da mesa, à minha frente, recebe uma ralhada da professora: "você faltou 47 dias, é claro que não sabe como fazer". Acho cruel, mas na Restinga é assim.
- Duas e quarenta e cinco, a menina à frente finge que está fazendo os exercícios. Ela olha a tabuada, não vê nada. Vira a tabuada de trás pra frente, continua não vendo nada. Ela me vê observando e sorri sorrateira. Eu continuo sério, afinal sou professor e é prova. Mas sorrio por dentro. Ah, o Marco ao meu lado abandonou a prova, e foi encaminhado à coordenação... ferro a representação.
- Três horas, dou conta da parada e consigo livros de ciências que seriam doados pela biblioteca. Tem alguns de geografia também, então já usurpo e começo a trampar.
- Quatro horas, cinco páginas escritas com esquemas de três materiais diferentes. Até então já redescobrira o que é Greenwich, meridiano, paralelo, que a rotação da Terra leva 23 horas, 54 minutos e alguns segundos, que a translação leva 365 dias, 5 horas e 48 minutos, que a forma do planeta é geóide, que o pólo norte geográfico é distante 1400 km do polo magnético, que paisagem, lugar e espaço são conceitos diferentes, mas integrados.
- Cinco horas, vou atrás de um globo. Equinócios e solstícios são conceitos muito graves para uma simples descrição falada. Preciso de algo palpável, e o Sol eu improviso na hora.
- Cinco e cinco, faltam dez minutos e a galerinha tá chegando. Me veem, mas eu to sussa estirado no sofá. Só saio dali depois de um café e um relax de dez minutos.
- Cinco e quinze, vou ruma ao desconhecido. Começa minha primeira aula de geografia na vida.
- Seis e quarenta e cinco, o combinado era parar por ae. Mas quarta não tem aula à noite, e a molecada topa ficar até terminar o conteúdo.
- Oito, eles foram embora, a sala está fechada e eu to vazando. Ou "tava" vazando. O Joaquim me intima para divir com o grupo da Eja o pró-eja da escola técnica. Começo a ler Sêneca para matar o tempo.
- Oito e meia, agora sim to vazando, irmãos! Opa, me disseram que não é muito bom sair sozinho naquele horário. Descolo uma carona.
- Oito e quarenta e cinco, o Walter grita meu nome no pátio e eu corro do bar onde filava um bolinho de aniversário de dois real e um suco para pegar a carona... "o gordinho tá comendo, pô", alerto.
- Dez horas, tombado na cama. Num estado de quase morte, esse que a Karen adora. Amanhã, meu pexe, começaria tudo de novo. Tamu ae.
2 comentários:
Tá pegando seus pecados! e tempo bom qdo só dormia e comia neh bola!kkkk
aaaaaaaaah , sooor tadinhuu de tiih !!
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