Amor não se dá em palavras, vícios ou lisonjeios. Tampouco em árvores comuns, destas que vemos a esmo. Amor é coisa rara em tempos de perdição – perdemos muito facilmente dons, laços, rumos e tempos. Acho, no fundo, que o amor é um achar-se, em si e no outro. Achar em mim o que é bondade inerente, no outro a bondade a construir. Amor, é, no fim das contas, construção. Não construção espelhada, mas concomitante. Ela não combina com trabalhos forçados, está mais para criação artística: necessária e livre. Veja bem, não é toda coisa no mundo que se dá o luxo de ser enquadrada nesse binômio. Ser necessariamente livre é o pesadelo sartreano às fracas almas – quem de nós é suficientemente forte?
A existência é dura, confessemos. Amar a amolece, é por isso que amamos. Amamos os pássaros, as ruas, as lembranças e nós mesmos. Amamos cada um de nossos momentos como tentativa natural de fugir à angústia do não saber. Porque amar é um saber profundo, daqueles que não se explica, e contrapõe-se à ignorância que nos é latente. Talvez seja a única forma de fuga, quem sabe?
Amar é viver de amor, é não cair no desamor ou nas inquietudes da própria alma. Amar é degustar tais inquietudes como remédio amargo ou com faro de cientista. Porque talvez, somente talvez, o amor se dê sim em palavras, vícios, lisonjeios ou árvores. Amor somos nós em relação ao mundo. Nenhuma paixonite ou sentimento de perda se equipara a isto. Seria chamar Zeus de faísca, Jeová de escuridão, medo de carinho. Amor é estar em consonância com seu próprio tempo, e isto é tudo o mais que se pode querer. Para que remar contra a corrente, se a direção é uma só? Por que olhar cabisbaixo para o fundo da canoa, quando o rio convida a banhar-se?
O tempo nosso é um só. O dos outros, estes se encontram na grandessíssima categoria do desimportante. Só aquele que valoriza o essencial pode chegar a ver algum brilho no secundário, dar de si para que seja algo. Amá-lo, resumindo. Sem o essencial, no entanto, é falso ouro tudo que se vê, e nosso tempo escorre entre dedos. Que se aprenda a amar, portanto. Esta é a única lei que todo ser humano deveria se impor.
Um comentário:
Eu te amo ;D
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