- Que música eh esta, papai?
- Eh de heróis... - aponto com o dedo, silêncio.
- Quê?
- Ouve - aponto a orelha, com calma.
Pede colo. Se aninha no meu ombro. Ouve. Heróis invisíveis, um gari, um professor, um policial.
"Essa gente que ignora tá salvando o mundo...".
Tira cabecinha do meu ombro, me encara. Diz:
- Papai, vc já foi ignorado?- a mão em minha face.
O que dizer? Não era sobre mim, era sobre ser humano. E sobre ser humano ele fez ser. Sua compreensão o levou direto a se preocupar comigo, como se a ele fosse dada a incumbência de cuidar.
Não disse nada. Silenciei. Dancei de leve, aninhei-o em meu ombro novamente. Ele não se aguentou, meio minuto me fita e busca me animar:
- Papai, eu me vejo nos teus olhos! - brinca, buscando meu olhar e achando graça de se refletir ali.
"Não filho. Sou eu que vejo através dos teus", a frase foi dita em silêncio, novamente. Através dos teus olhos a vida, pulsante, curiosa, potência pura, se apresenta. É.
- Vai, q eu vou terminar a louça e depois jogamos - leva um tapa na bunda já no chão e sai rindo me provocando para ir pegá-lo.
E eu vou mesmo. Sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário