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segunda-feira, 28 de junho de 2021

Heróis invisíveis

 - Que música eh esta, papai? 

- Eh de heróis... - aponto com o dedo, silêncio.

- Quê? 

- Ouve - aponto a orelha, com calma.  

Pede colo. Se aninha no meu ombro. Ouve. Heróis invisíveis, um gari, um professor, um policial. 

"Essa gente que ignora tá salvando o mundo...". 

Tira cabecinha do meu ombro, me encara. Diz:

- Papai, vc já foi ignorado?- a mão em minha face.

O que dizer? Não era sobre mim, era sobre ser humano. E sobre ser humano ele fez ser. Sua compreensão o levou direto a se preocupar comigo, como se a ele fosse dada a incumbência de cuidar. 

Não disse nada. Silenciei. Dancei de leve, aninhei-o em meu ombro novamente. Ele não se aguentou, meio minuto me fita e busca me animar:

- Papai, eu me vejo nos teus olhos! - brinca, buscando meu olhar e achando graça de se refletir ali. 

 "Não filho. Sou eu que vejo através dos teus", a frase foi dita em silêncio, novamente. Através dos teus olhos a vida, pulsante, curiosa, potência pura, se apresenta. É. 

- Vai, q eu vou terminar a louça e depois jogamos - leva um tapa na bunda já no chão e sai rindo me provocando para ir pegá-lo. 

E eu vou mesmo. Sempre. 


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