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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Aula 03

- Pessoal, só um pouquinho... - ele pedia a atenção da sala. Quem são alunos x, y, a, b, c e d?

As mãos se levantaram, meio surpresos: o professor sabia seus nomes então?

- Bom, vocês zeraram as perguntas. Um copiou do outro. Tudo bem?

E um grande e sepulcral silêncio deu-lhe a resposta. Carinhas envergonhadas, ninguém tentou negar.

- Bom, então é isso aí. Corrigi até o doze, então se alguém mais, além destes, copiou, me avisem que eu não perco meu tempo... vou zerá-los de qualquer jeito. E outra coisa: não percam o tempo de vocês, melhor logo não entregarem. Nada que um trabalho de trinta páginas não resolva, tudo bem?

Mais uma vez, o silêncio. Não é que aqueles dois estagiários metidos a professores estavam corrigindo as questões? E ainda comentando!

- Bom, é o seguinte: aqueles que copiaram tem até sexta para me entregar refeitas as questões, valendo 70 porcento da nota. Houve alunos que responderam, e muito bem, então não é justo que os engraçadões aí sejam avaliados da mesma forma. E considerem que eu lerei três vezes cada questão, então façam bem feito. Podem começar, todo mundo.

E a sala ficou quieta. De repente, pareceu nascer um amor pela filosofia, todos quietinhos, lendo o texto e respondendo. Uns três vieram se justificar sobre as cópias, outros 4 vieram avisar que copiaram e que refariam.

É, nem tudo são rosas. Mas também não foi tão terrível assim. No final, o texto esta sendo lido, e isso é o que importava para os estagiários. Mesmo que aqueles jovenzinhos não pudessem entender a amplitude disso, aquelas idéias estavam ali, expostas. Outros horizontes, para a maioria deles. Quem sabe dois ou três não fariam filosofia daqui a dois anos? Bom, ter fé nem sempre é um problema.

-*-

Minutos antes da aula, um doce encontro. Foi ali que o jovem professor estudara a já alguns bons anos, e foi ali que conheceu a filosofia. Seu professor era formado em história, na época filosofia era só uma sementinha na grade curricular - faltavam professores, faltava noção do porquê filosofia (talvez hoje ainda falte, mas tem um número considerável de pessoas tentando mudar o quadro). Sabia que aquele professor seu não estava mais ali, e não mais ensinava filosofia: a UEM formou sua primeira turma, e depois a segunda... o jovenzinho faria parte da sexta turma formada! Bom, tanto maior a surpresa, tanto maior a doçura do encontro:

- Professor Luís? Como vai - a mão estendida.
- Marco Aurélio? O, rapaz! - depois de sete anos, o aluno lembrava do mestre, o mestre do aluno.
- Angélica, este é o cara responsável por me fazer gostar de filosofia.
- Prazer.
- Prazer é meu.
- O senhor não está mais aqui né?
- É, agora estou no Núcleo... mas e você, que que faz aqui? Faz tempo que não te vejo!
- Sou estagiário... de Filosofia. Quarto ano.

Um sorriso mútuo, de segundo, transpareceu. O aluno agora se tornarva um mestre? O tempo passa, as crianças crescem e nos surpreendem.

- Bom professor, tenho que dar aula... Mas tomemos um café algum dia desses.
- Claro, vá lá.
- Foi um prazer revê-lo.
- Igualmente.

Apertaram-se as mãos, o mestre e o aluno. Quão imprevisível é o tempo! Foi um doce encontro, com certeza.

-*-


Batera o sinal, os estagiários entraram na sala. Dois minutos para todos se acalmarem. Bom, se ser professor é isso, vamos lá, fazer o que né. Mal necessário...

- Pessoal, só um pouquinho...

Um comentário:

Anônimo disse...

Me emocionei ao ler esse post. :)