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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Presente

Presente dado, presente agraciado. O tempo juntos é pouco, mas precisa ser mais? Ah, precisa! Com toda a necessidade de uma tautologia, toda vontade que surge de mansinho numa caminhada a tarde, com toda verdade de uma lembrança viva no pensamento, ah, precisa...
Precisa ser sussurro no ouvido, música, baixinho. Precisa ser mãos dadas, dedos a se procurarem de leve, brincadeira de criança. Precisa ser falta do que fazer, simples presença do outro. Ah, como precisa! Precisa ser tentativa de recorde de hibernação em dupla, ou um leite quente numa hora imprópria. Precisa ser encontro em rodoviária, passos e sorrisos que se aceitam. Precisa ser a boca que procura a nuca, a nuca que procura a boca. Precisa ser aconchego do corpo, precisa ser colo, e cafuné. Precisa ser dia de sol em dia de chuva, brisa quando quente demais. Precisa ser um andar descalço, uma dança a meia luz, um vinho ao som de Carla Bruni. Precisa ser vontade de ficar junto, precisa ser ruim ficar longe – mas precisa ser sereno também, justamente porque distância dói.
Ah, precisa de mais? Como precisa! Se não há a pessoa certa a priori, o há por escolha. Conto de fadas nunca foi sobre fadas, mas sobre vontade de alguém. Difícil explicar o que nos leva a ficar juntos de outra pessoa? Nem a pau, eu mesmo tenho minha lista: beijo, abraço, conversa, bronca, segurança, leveza, alegria, compreensão, desejo, respeito, afeto, liberdade, caminho, futuro, construção. Mas são só atribuições que delimitam em certos contextos quem queremos, como numa construção nossa, uma vontade de definir... e amar não é definição! Se fosse, amaria logo um teorema, lei ou postulado... o bom mesmo é a beleza do outro, livre de nossas expectativas e definições sobre ele. Amar acaba então sendo um estar junto, uma vontade de estar, uma precisão do outro assim como ele é. Amar é saudade que rola como o Urucuia, longe e forte, num devir que vem, vem, vem vindo... e a vida toda vai passando, rolando correnteza.
Amar é presente, dádiva do tempo. Obrigado, pequena.

Obrigado, pequena. Por quantas vezes eu puder te dizer, obrigado.

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