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sábado, 5 de setembro de 2009

Cigana

Espera o moço na areia, na beira de sete léguas, a cigana Margarida. Lê mão como cigana, a tal. Permeia indos e vindos, soletra magias várias, acaba que sentencia:

- Amor, seu moço, é guria.
- Mas por isso lhe paguei, não me venha com aforias!

Dado o pesar do rapaz, a cigana Margarida, esperta em seu fazer, matuta na pontaria, desdiz o que se segue, contramão que arredia:

- Vida vareia campina seu moço, não há juiz que desdiga.

O moço já enfadado, procura o laço soldado, soldante de infantaria. Ameaça milho e chofer, esquadrilho quando escaler, por modo que sentencia:

- Velha veja meu dinheiro, que aqui não há paradeiro, de onde eu arrede o pé. Dou-te o chicote dobrado, se acaso malfadado, acordo que postes fé.

A velha matreira sorriu. Argüiu o jovem rapaz, lhe botou em maus lençóis, com aquilo que se seguiu:

- Não rogue deveras praga, que em cigana não pega. Antes vire delegado, arrume do bom salário, te sirvas de boa beca. Faça valer condição, tua mãe te fez varão, a toa que não se entrega. E procure no sabulhão, pedaço de comichão, alguém que te sirva a festa.

O moço desconsolado, vendido e mal arrumado, se foi pras léguas atrás. Cigana que tinha vivido, dois meios a mais sucumbido, seguiu caminhão capataz. Da história que se contou, das duas uma valeu: nem amor se compra fácil, pedaço doce melaço, com magias e afins; muito menos obstante, vale conselho de errante, se cobrado querubins.

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