Vocês já tentaram andar de moto no frio? Se sim, sabem que não é boa ideia abrir a viseira, a alma vai embora do corpo! - o que não invalida minha sugestão aos queridos leitores que vivenciem a experiência da moto, é libertador. Pois bem, hoje precisei levantar a viseira, mas por breve momento. Já era fim do dia, praticamente noite nesse quase começo de inverno, e a chuva da manhã deu lugar a um céu límpido e frio. Mas, já adiantando, digo que não adiantou para o que se queria a tal levantada. Do que raios estou falando, afinal? - vocês devem se perguntar. Foram umas boas linhas para nada dizer, como se os leitores tivessem esse tempo para perder! Desembucha!
Vou! Mas... não vou! Não quero desembuchar! Não quero correria alguma, pois cada momento é necessário, cada gota do dia deve ser sorvida a frio, nesta noite fria de Porto Alegre, pois o dia, como diz o título, foi memorável. Não quero esquecê-lo por meio de frases curtas e objetivas, como os últimos textos que postei, mais cansado do que inspirado; não ligo se a linguagem coloquial, com um suposto leitor, parece clichê demais - não pretendo fazer literatura. O que quero é contar. Contar sobre o dia. Com alguma sorte, guardá-lo em palavras.
Para isso, preciso dizer que hoje acordei chorando. Dramático, não? Imagina se eu conto isso nas primeiras linhas? Vocês já teriam ido embora, de loucura basta a nossa, eu é que não vou ler alguém que quer impactar na primeira linha, vá aprender a escrever um texto de blog! É, meus queridos, to presumindo muito hoje. Ou não, só estou apresentando um lado que sempre existe, o de imaginar o outro, seu pensamento, sua ação. Quem presume é presunçoso? Melhor que presumidor, neh? Então aceito a presunção de julgar vossas reações, e presumir que não é de bom tom dizer que se acorda chorando.
Preparado o terreno, o do bom tom, preciso dizer que sim, é verdade. Na noite anterior andei chupando umas balas antes de dormir, com a devida bronca da gata que me cuida, e elas tiveram (mais uma vez, vou na onda do presumir) um efeito interessante. Assim como já tinha ocorrido dias antes, o que embasa a presunção de causalidade, e ainda que acabe também embasando, com um tom tanto quanto absoluto, a correteza da bronca dada, o efeito do açucar (será que são feitas mesmo de açucar?) fez com que meu sono não fosse tão profundo como soa ser. E, por isso, presumo, tive lembranças claras do sonho que me passava pela cabeça, seja lá de onde tenha vindo.
O sonho foi mais que claro, foi uma cena inteira de imagens e sentimentos. Meu pai havia morrido. Não sabia bem a causa, mas havia aquela agonia do não estar, do nunca mais estar. E passamos, eu e meus companheiros de sonho, a um velório, com seu corpo ali, e a dor aguçada no meu peito sonhístico, permitam o neologismo (presumido, por óbvio), aumentando, sufocando. Mas não parou aí não! - malditas balas de iogurte, quantas chupei para o efeito alucinógeno não ouso escrever em voz alta. Eu carreguei seu caixão, pelo mesmo lugar que carregara a de minha avó, minha madrinha, sua mãe. Sabia que era lá, sabia o que era lá. E doeu.
Então acordei. Acordado, chorei. Mandei uma mensagem de áudio ao velho, a voz embargada e sonolenta, pai, pára de fumar!, sonhei que você estava morto. Como ele acorda cedo, não demorou a vir uma resposta. Uma voz clara e confiante, dizendo do frio que lá estava, me dando um bom dia, me despreocupando, que estava tudo bem. Respondi que não estava nada bem não, e que ele é importante para nós, e que não queremos perdê-lo. Não houve nova resposta. Talvez ele não saiba o que representa um pai aos filhos, o quão marcou forte nossa alma, o quanto seus cuidados fizeram de nós o que somos. Talvez, no afã de ser pai do jeito que sabia, esqueceu que nós também o amamos, e nos preocupamos, e que, quando ele se for, fará falta. Talvez, por motivos que permeiam o coração, não se permita se ver neste lugar, finge que não entende, que o mínimo que se espera de um avô é que veja o neto crescer, e lhe conte histórias, e esteja ali para ser o segundo pai, aquele que deixa mais do que o primeiro, leve para andar de bicicleta ou ensine como moer milho para passarinhos. E, com perdão às irmãs, não saiba o quanto ele é importante para mim. O filho que, já homem, chorou no seu colo, e foi cuidado quando não acreditava mais que poderia.
Bom, perceba-se que culpar as balas de iogurte (ou iorgute, para delírio da gata), é ser demasiado injusto com as belas e rosadas fontes supremas de açúcar gostosinho. O que tá por trás da coisa toda é um inconsciente bem fudido mesmo, desses que presumo que exista, tanto que se ouve falar dele, e que escancara aquilo que o cotidiano esconde. Que eu estou longe, que não posso cuidá-lo. Cuido malemá de mim, e olhe lá, e faço o possível para cuidar do meu filho, esse amor maior - também há a gata nessas entrelinhas, e ambos mereceriam um texto próprio. Que eu estou há quinze anos longe. Que já é uma vida.
Mas, se chegaram até aqui, podem estar se perguntando se isso tudo vale o título, por mais tocante que seja o descrito. Eu teria que concordar com os incautos leitores, muito título pra pouco texto. De modo que precisaria evidenciar, como o faço, que ainda há texto. Foram só os três primeiros minutos do dia.
Nos próximos três minutos, ainda a voz embargada, mando uma mensagem para minha irmã caçula. Afinal, são seis da manhã, por que não acordar a irmã com algo cantante e desafinado? Te peguei, bobinho! É aniversário dela, e, nessas circunstâncias, qualquer irmão mais velho a mais de mil quilômetros de distância ganha o direito de ser desafinado e inconveniente, hão de concordar. E sei que ela não acordará com a mensagem, deveria é ter ligado, pensando bem. Taí o problema de rever em perspectiva, a mera descrição não basta, necessita surgir a análise, o projetar diferente! Bom, mas em respeito a vocês, tentarei ser mais objetivo na minha subjetividade. Mas sem apressar muito, fique claro.
Nesses três minutos, após a mensagem, chorei de novo. Dessa vez não teve bala nem sonho, foi consciente que me veio a imagem do décimo quinto ano que passo longe dela em seu aniversário, em seu dia. Quinze anos! Sabem o quanto dói? Sabem não, vosmecês. Sabe somente quem um dia se exilia, e passa tanto tempo longe das pessoas que ama. Pra esses, palavra alguma é necessária. Escrevo para vocês, os leitores aconchegados no cotidiano doce e quente, com alguma reclamação daqui e outra acolá, barriga cheia de afetos e presenças. Somente assim para me desculpar sobre fazer perderem tanto tempo para descobrir algo tão banal quanto algumas lágrimas caindo. Mas tem mais. Foram seis minutos, não esqueçam.
...
Uns sete graus de temperatura e vou eu, nos minutos seguintes, pegar minha motinha e ir pra Restinga, vinte e cinco km pro sul, na lida que molda nesses quinze anos por terras gaúchas. Sobe morro, desce morro, paralelepípedos e asfalto, alguma coisa de barro, uma ponte provisória sobre um riozinho qualquer. O de sempre. Sobre o caminho de hoje, posso dizer que, além do frio, chovia. E, chovendo, quando se está frio, o andar de moto se faz uma experiência única e formadora de caráter. Recomendo, pois não. Já sobre a Restinga, o que me sobra é lembrar que lá sou professor, como se já não soubessem. E que, hoje, em especial, teria que levar duas turmas, de escolas diferentes, ao Instituto Federal, para que conhecessem.
Não tem como continuar esse texto sem dizer que meu ser professor é na Restinga, e que, para quem não sabe, ela está na periferia de uma capital grande e desigual. Os miúdos, a quem quiser, estão espalhados neste blog. Textos de um professor novato, desesperado; textos de um professor inconformado e decepcionado; textos, mais recentes, de alguém ainda inconformado, mas que achou um caminho. Quando conto o que é ser professor ali, as pessoas não botam muita fé no que falo. E isto que sou de família de professoras, com orgulho. A realidade só é sabida por quem está lá, linha de frente, atendendo. Mas preciso que ela se delineie para quem não está, ou o texto perde um tanto do sentido.
Sabe aquela ideia de Estado presente, efetivo, garantista, que dá a classe média um bom meio para aflorar? Ele não está lá. Sabe aquela família que estrutura suas crianças para o mundo e lhes garante um futuro melhor? Muitas vezes ela não está lá. Sabe a crença marcoaureliana que toda cidade é Maringá, que que uma escola pública vai levar seus alunos à universidade, e eles terão passe gratuito nos ônibus, e tudo será perto e acolhedor? Que existe um poder público preocupado de fato, e que pensa políticas públicas que garantam o mínimo de aprendizagem e autonomia? É somente isto, uma crença que, em meio ao caos em que se vive, passa muitas vezes por tolice e ingenuidade. Não quero me prolongar demais. Como disse, há outros textos para se deleitar. A ideia central, para deixar claro, é que o futuro, ali, não é cor de rosa. O presente não o é. E, se você vai operar ali, precisará sempre, todo santo dia, decidir se vai se tornar um cínico desacreditado que não vê saída ou um candidato a Dom Quixote que vai salvar o mundo. Não que esse veja alguma saída, seria pretensão em demasia. Mas, ainda que não se a veja, não pare de cavar o túnel, com a esperança de encontrá-la.
Eu tenho escolhido o segundo caminho, sabe? Já deixei de julgar moralmente os colegas que não estão nessa comigo, porto alegrense anda votando mal, aguentar a chefia que se coloca não tem sido fácil. Mas, na medida do possível, tento alguma transformação a partir do único espaço em que tenho algum tipo de poder: minha sala de aula. Ali, sou eu e eles. Ali, minha palavra precisa tocá-los, e somente a eles. Eles precisam acreditar em mim, acreditar no que ensino, aceitar o caminho que proponho - e, minha gente, não sabem o quanto eu sou chato!. Não tem folga, não tem migué, não tem celular, não tem não vou fazer. Ou todos vamos, ou ninguém vai. Se eu preciso deixar um para trás, então tenho que olhar para meu fazer. Se eles não se convencem com os motivos que dou para estarem ali, outras palavras serão necessárias. Porque, nesse contexto todo, não se comprometer com o ser humano à nossa frente me parece insuficiente para quem detém o título de professor. Comprometer-se não é “dar aula”, seguir um conteúdo programático no qual não se acredita e se postar em argumentos de autoridade diversos. Tem mais a ver com ir até o final, pagar o preço, se forçar a achar meios onde aparentemente não os há. Piegas, não? Pedante, talvez? Arrogante, parece? Só parece, mas não é. Aos olhos de meus alunos, tenho certeza que não. E isto, sinceramente, basta para mim.
Enfim, eis o contexto. E eis que, nesse contexto, um bendito acontecimento se deu: a comunidade conquistou um IF lá em Brasília, história linda, um campus para chamar de seu. Tenho orgulho de dizer que fizemos o primeiro “cursinho” pré-IF da história, até onde me consta. Um moleque da Filosofia tentando ensinar geografia depois da aula, pois Filosofia mesmo nunca caía, mas ele queria ajudar, Joaquim, o velho mestre da Matemática que ficava na escola para a EJA, Waltinho, cupincha da História que mais tarde levantaria comigo o Anima Tinga, e Ed, o biólogo, tão moleque quanto eu, parceiro de voltas e mais voltas de ônibus lotado e muita conversa sobre, já ali, salvar o mundo. E não é que uma tantada dos nossos alunos passou na prova?
De lá pra cá, sempre que posso levo meus nonos anos para visitar o campus. Não é fácil convencer os alunos que educação vale à pena, que se colocar perante uma prova para a qual muitas vezes não estão preparados é algo que deve ser tentado. E olha que falo em aula, hein? Devo ser aquele professor tiozão de um discurso só, lá vem ele falar do IF de novo! Se um dia contarem a vocês essa versão, podem acreditar. Nenhuma mentira seria contada. E sabem por que tenho essa pira toda? Porque o IF é foda. Porque tem prédios novos e estruturados; salas de aula que não parecem celas; professores e funcionários bem remunerados; bolsas de pesquisa, ensino e extensão para os alunos; auxílio financeiro para quem precisa - que aí precisou focar em trabalhar para ajudar a família levanta a mão; porque é uma escola pública e gratuita; porque, em suma, é como toda escola deveria ser.
Que parênteses, não? É, avisei lá no começo do texto, seria longo e talz. Mas guentem aí, tá quase acabando! Tinha parado no rolê de levar duas turmas para visitação hoje, a pézão mesmo, bons 30 minutos caminhando. Vai Dolores de manhã, vai Pasqualini à tarde. Numa, 15 anos de profe Marco lecionando. Noutra, uns bons 12 ou 13, juntando idas e vindas. Só que, como devem se lembrar lá do começo, estava frio e chovia. De modo que, pela manhã, cancelamos a ida, com alguma dor no coração. Mas não havia o que fazer. Quem sabe, pela tarde, o Sol viria! Tani, gata, segura aí, te aviso! Dai, chefa (e amiga), segura aí, que vai dar. E, lá pelas 13h, deu! Chuva parou, e os corajosos 12 alunos que vieram ganharam um tempo firme, ainda que frio, e uma ida há muito prometida. Sarah me contando que o pai perdeu a hora, mas veio de Uber. Manu ansiosa para passar em casa pegar a autorização que esquecera. Lorenzo me contando que sua prima estudava lá, se eu a conhecia. No geral, carinhas curiosas para saber se o tal do IF era tudo isso mesmo. Pagaram pra ver.
Chegando lá, fomos recebidos por uma bolsista e pela gata. Percebam que ela é recorrente na história, e até no IF aparece! Se fôssemos especular, poderíamos dizer que ela me fragou na primeira visita em que nos encontramos, eu, o profe, ela, já gata; e que, a partir daí, ou acredita-se em destino, ou deveríamos nos embrear no como ela me enredou, se por alguma magia internética, dança da chuva ou, ai ai ai, por uma investigação submersa sobre o moreno alto e sério. Claro que ela negará tudo, a danada. Mas, dado que sou eu quem escreve o texto, fica a narrativa, ao menos por ora, dessa forma mesmo. Talvez alguma mudança radical se incorpore após ela ler, se é que quererá perder todo esse tempo. Por enquanto, desfrutem dessa parcial e fantasiosa história que lhes ofereço!
Foca, Marco, foca! Ok, entendi. Bom, recebidos lá, fizemos o rolê todo, conheceram as salas, as estruturas, os cursos. Até a parte do auditório, onde a bolsista explica como são as provas de entrada, o funcionamento interno, as bolsas disponíveis e tantas outras informações importantes, além de tirar dúvidas dos visitantes. Eu quietinho atrás deles, vou ouvindo segurando a vontade de perguntar ou intervir. Resisto até ver dois ex-alunos, que estiveram comigo no ano passado nessa mesma visita, me acenarem na porta e me chamarem. Fui, todo todo, dar um abraço e perguntar como estavam. Arthur conheci desde o primeiro ano, coordenava o integral quando ele entrou, ia comigo jantar na fila de pitucos que o professor grandão levava pela escola. A Dani, sua mãe, sempre presente, sob Sol ou chuva, e uma crença na escola que sempre me comoveu. Em dezembro, me deu um abraço ao fim da formatura de seu filho. E ali já estava orgulhoso o suficiente, viu? Imaginem então quando vejo aquele menino tímido de outrora me acenando alegremente numa porta por aí, e topando falar com os alunos que eu levara, incentivando-os? Foi muito bom!
Interrompida a primeira fala da bolsista, prometi não mais interromper, ao menos mentalmente. E o plano ia bem, até que mais duas figurinhas aparecem na porta acenando, dessa vez duas gurias, agora do Pasqualini, Maria Luiza e Manuela, que também vieram nessas visitas há dois anos e decidiram dar um abraço no velho profe. Tive que pedir pra elas falarem, vocês entendem né? Professor é tudo bobo, basta ver um ex-aluno que já fica todo orgulhoso, achando que teve alguma coisa a ver com aquela exuberância de juventude pujante que explicitam em seus sorrisos e trejeitos. Do pequeno e tímido Arthur, à confiante e altiva Manuela: quando foi que cresceram tanto? No fim, já no pátio, o Gabriel me encontra e vem dizer que tá difícil, olhando para mim de cima para baixo, mas que tá gostando. Esse é outro que levei para jantar na primeira série, e vi crescer aos pouquinhos na escola. E Thamiris, pequenina e quietinha, dizendo que tinha saudades do Dolores, e que estava difícil ali, muita matéria, muito puxado, foi a última que me deu um abraço, pois já era hora de voltar para a escola.
No caminho, ao pedir que se providenciasse lanches para os que não puderam comprar algo lá no IF (aê tem que melhorar, IF!... bora ter refeitório, tio!), a vice diretora, respondeu que sim, e que queria falar comigo. Tá bem, tamu chegando, falemos.
Mas... falemos sobre o quê? Minha supervisora é quem fala comigo, oxente! Por que ir à Direção?, encasquetei. Estranho, demasiado estranho. Mas enfim, deixe eu cuidar dos alunos, olhar adolescentes andando livremente entre calçadas e rua demanda certo direcionamento. Sarah, ao fim do caminho, falou que não conseguia fazer a conta gov, necessária para inscrição. Chegaríamos mais cedo que o previsto, teríamos ainda 40 minutos para o sinal de saída, eu te ajudo, falei. Só preciso levar vocês para lanchar e dar um pulo na direção, mas deve ser rapidinho, tá? Combinado.
Pois então chegamos. E, ali, então, chorei pela terceira vez.
Fui chamado à Direção, mudanças no quadro, sobras de carga horária, nós tentamos, Marco, mas não deu, você tem menos carga horária que o colega, é assim mesmo. Te apresenta na Smed segunda-feira.
É, foi assim. Em dois minutos.
Sai da sala, não falava. Fabão me perguntou como foi o passeio, não soube dizer. Só saiu um fui dispensado. Quê?!, ele respondeu. É, fui dispensado, to fora do Pasqualini. Cê tá brincando? To não. Essas foram as últimas palavras que consegui dar sem chorar. Começou aos poucos, veio crescendo, crescendo, e, em trinta segundos, o choro renasceu ali mesmo, na frente dos alunos que aguardavam. Uma névoa. A partir daí, uma névoa. Dispensado. Como assim? E meu armário? E minhas coisas?
E meus alunos?
Te apresenta na Smed segunda-feira. Objetivo, imperativo, é isso. O colega tem mais horas. Tá, ok, entendi. Não, não entendi. Quero me despedir. Posso? Claro!
Duas turmas juntas, pelo reduzido de alunos, pedi autorização e entrei em sala. Chorei, pela quarta vez. Me lembro e abraços, choro e incredulidade. Mas você vai nos levar no IF! Ce tá de brincadeira?! Sôr, pára com isso!!! Não gurizada, é isso mesmo... mandem um beijo em quem não está aqui hoje, e não se esqueçam da prova do IF!
...
Não pude ajudar a Sarah. Fui ao jardim, e, frente à Daiana, chorei pela quinta vez. Mas, dessa vez, sem precisar ser o adulto da sala, o adulto referência, aquele que acalma e cuida, pude deixar sair tudo aquilo que estava sufocando. Não sei se preciso descrever, um homem de quase um e noventa aos prantos não deve ser muito bonito de se imaginar aos olhos do grande público. Será que eu posso dizer que ela chorou também? Acho que não vou contar, porque aquele momento é nosso, e o que foi dito, que nem precisaria, ficará entre nós. A única pergunta que posso compartilhar foi: fiz o suficiente? Ela me disse que sim.
Alguns abraços, algumas conversas, vamos embora. Na tal da moto, finalmente, um último olhar para o pátio já deserto. Não soube me despedir. Tentei, de várias formas, mas não soube. O prolixo Marco Aurélio perdeu as palavras. Sem elas, parti.
...
O capacete, afinal, precisou ter a viseira levantada, e vocês já imaginam porque, presumo (e, prometo, pela última vez). O dia se encerra, e algum texto saiu. Perdoem-me as inconsistências e incoerências. Obrigado por compartilharem comigo até aqui. No fim das contas, é só uma história sobre um fim, como tantos outros.
Mas é a minha história. E, agora, ela estará guardada por aqui.
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