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terça-feira, 20 de maio de 2025

O vendedor

Ser professor, depois de tantos anos, ainda me assusta. A gente tem tanta coisa contra, sabe somente quem tá na lida. E o peso de ensinar algo a alguém? Tem sempre o medo de não se conseguir. Ser professor, no final, é saber vender seu peixe, mas esperando que o lucro fique com quem o comprou. É convencer outrem que aquilo que você está ofertando é tão precioso, tão precioso, que somente por isso me dou o direito de tentar repassar. Um presente, que só se dá àqueles que precisam dele, para que cultivem, aflorem, espalhem-se. 

Eu vendo sonhos. Vendo perguntas. Ofereço um caminho torto ao senso comum. Vendo a cada um deles, entrega personalizada, no que o grande delivery do qual faço parte me permite individualizar.

Preciso que acreditem que sou somente um mediador, que quem pensa são eles. Porque toda aula deveria ser assim: um ensinar a fazer, ainda que pensamento, de modo que o professor não seja mais necessário. 

No fim, talvez outros vendedores de sonhos, perguntas e afins nasçam por aí. E, então, meu susto se comprima num eco distante de quem contempla a lembrança da própria vida sentado num banco de primavera, e se torne sussurro de uma brisa quente dentro de mim. 

Ensinar é um ato de amor. 

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