A motoquinha era azul e bege. Duas rodas de plástico atrás, uma maior com pedal na frente. Mas não era um tico-tico, e sim uma motoca fera radical. Tinha até o motor desenhado no plástico, e a definição do banco. De tamanho, era menor que uma bicicleta, mas maior do que as outras motocas, como a um jovem entre quatro e seis anos deveria ser (lembrar idades exatas aqui seria pura presunção). Valentino Rossi já existia na casa de esquina com seus pés de primavera, muro nunca pintado e portão baixo. Atendia por este que vos fala...
Voltemos às rodas: eram pretas, com pequenas ranhuras que faziam parecer de um trator em miniatura. O que também gerava um som compassado, roda ranhura roda ranhura. Em alta velocidade, quase um motor. Mas por que me lembro logo das rodas? Ora, a motoca não era somente uma motoca, era um carrinho e nave, ou navio. Mais pra nave, porque acho que naquela época não tinha elementos suficientes para representar um navio, e se os tinha era em menor número do que os de nave. Jiraya, Changemans e Flashmans não tinham navio não, era nave, das boas, as que se transformavam em robôs, ou carros e motocas coloridas. Navio foi, suspeito, em outra fase cognitiva.
O fato é que, campeonatos ganhos pelo pequeno Rossi, suspeitava da utilidade monossilábica da coisa. Sentava numa murada cheia de pedras onde mais tarde seria uma sala e onde mais cedo não passava de barro e algumas madeiras para se passar a pé. Dava de frente para o portão grande a tal da murada. Ele e sua cor de ferro enferrujado, não fora pintado durante um bom tempo. Dali ele via a rua, e o povo, e tudo em movimento. Atrás, a certeza que a equipe de pista daria o apoio, caso ele chamasse (gritar mãe e pai na copa recém construída, ali onde era área da pequena casinha de frente ao pé de laranja lima). Bom, o pequeno Rossi, com a certeza do universo em suas mãos, virava a motoca de cabeça para baixo, apoiando no banco e no guidão seu peso. E eis que surgiam dois bons volantes, a roda da frente e a roda de trás imediatamente à mão.
Imaginem só, uma rodada mais virulenta e o volante rodava umas dez vezes. Imagino hoje quantas curvas em torno de si mesmo o ás da velocidade não acabou por dar. Mas pecado totalmente perdoável perante a necessidade de perseguição aos caras maus que, por certo, também rodavam em torno de si – culpa deles portanto, o pequeno navegador de naves e afins só seguia os barbeiros.
Era nessas horas que se percebia as ranhuras das rodas pretas, já desgastadas, motoca de cabeça pra baixo. Não me lembro de muita coisa. Sei que logo ganhei uma monark vermelha com garupa e freio de pé, usada, e ela deve ter sido o motivo da aposentadoria da motoca. Mas só presumo, saber mesmo confesso que não sei. Somente lembro da primeira vez que andei na bicicletinha: três rodas era show, vai querer andar em duas pra ver que que dá. Na reta até que ia bem... mas virar... aí já era outra história. Da casa dos pés de primavera e da mureta espacial com a motoca, a pracinha tornou-se novo cenário com a monarquinha freio de pé.
No entanto, barulho como o motor da motoca nunca mais se ouviu por ali. No máximo, a lata de refrigerante colocada no pneu para, em atrito com os freios, darem a sensação de um rotor. Mas não era eficiente, comia muito pneu – um verdadeiro piloto tem que entender do equipamento. E o charme da motoca, nunca os canudinhos colocados nas raias das bicicletas do bando de muleques que se formou chegaram perto. Motoca ninja!
2 comentários:
marrrcão!!!!
E ai querido...ai eu não acredito que eu não anexei voce nos meus favoritos pow!
Bom sua passagem pelo pelo blog resfolegante!
Grande Abraço camarada!!!
Imagina fran, fui eu descobrir teu blog só agora... e te descubro uma ativista! :D
é um prazer, e sinta-te a vontade
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