Um dia me voltam os textos pra falar bem do ser humano... mas dado o caso abaixo, não será hoje.
Vamo lá, onze da matina, aula de inglês feita, o negócio é ir no RU por um e trinta. A Urgs tem três restaurantes para os alunos, e todos eles tem filas boas, bemmm boas. Mas onze horas nem é tanto, e eu não tenho muita opção.
Bom, há todo uma cultura de se cortar filas por aqui, como em Maringá tb tem. Mas presumo pelos cartazes espalhados buscando coibir a atitude, pois não tinha visto, de boa. Dae eu na fila, chega um rapaz sorridente pra bater um papo com o casal à minha frente. "Olha, eles se conhecem, como o mundo é pequeno", foi minha primeira tentativa de assimilar que o ser NÃO iria cortar fila. "Bom, logo ele se vai".
Papo vem papo vai, o rapaz de lado para mim, eu encarando. "Calma Marco, n estamos na porta ainda, ele vai sair dae e continuar seu caminho, espere e relaxe". Bom, já não estava relaxado. A fila chegava na porta e o papo indo: matéria tal é chata, matéria x é legal, e a mesma desfaçatez em fingir que ninguém viu que estava cortando fila, o casalzinho cúmplice, a vontade de passar a perna nos outros compartilhada silenciosamente por três pessoas.
Aproveitei uma olhada de lado do rapaz e fiz um sinal com a mão: "lá atrás". Minha última tentativa de me convencer que o cara não tava fazendo aquilo. "Agora ele vai se dar conta de que alguém está incomodado pela situação e vai de boa lá pro fundo, ou dar um rolê". Geralmente esse tipo de atitude é incentivada por ninguém da fila falar nada, o que eu meio que mediei, já constrangido.
Beleza. O cara foi? Claro que não. Virou a cara, fingiu que não viu, continuou no papo fútil sobre alguma coisa com o casalsinho idiota que compartilhava da situação. Dae subiu. Já tinha subido.
- OOOO piÁ, NA minha frente vc não entra. - isso saiu alto, bem alto. Ele olhou, parou e eu fui passando. Ele não falou nada. Gostaria que tivesse falado. O rapaz com a moça se virou de leve, não precisou me encarar. Eu encontrei os olhos dele primeiro, já estava na nuca esperando alguma reclamação. Ele não reclamou. Mas eu juro que eu queria. Um risinho que fosse. Nessas horas vejo o quanto me deixo levar pela irracionalidade - e sinceramente, foda-se.
Tirando o constrangimento, que acabou por estragar meu almoço, de ter que lembrar um filha da puta destes que a porra do dever, da civilidade, do respeito ao próximo e da vida social que sua mãe imbecil esqueceu de incutir na sua cabeça, ele ainda veio com essa, depois que entrou atrás de mim na fila pq o cara que estava atrás de mim é tão idiota quanto ele:
- Você também faz Direito? - o tom de pacificador na voz.
Ahhhh, vai à puta que pariu!
- Não. - traduzindo: posso te matar?
Que mané direito? Desde quando tem que se fazer direito para saber que há uma fila debaixo de um sol quente da pega e que cortá-la é um desrespeito para com todos os que vêm atrás e que pressupõe a idéia de que se é melhor do que os outros, quando na verdade é um merdinha que teve capacidade pra entrar numa universidade mas não teve educação o suficiente pra se colocar no lugar de outrem? Desde quando tem que se fazer DIREITO para alguém exigir direitos básicos da vida em comunidade, seja não cortar uma maldita fila, seja exigir serviços públicos melhores, seja reclamar quando lesado enquanto consumidor? Por que alguem tem que fazer DIREITO para poder falar "Seu trolha, sai dae que teu lugar é lá no fundo?"
Só na cabeça de um idiota como aquele. Bem vestido, aluno de Urgs, branco e classe média. E esse cara vai se formar advogado, médico, economista, professor. Legal. Provavelmente é um dos que pegariam um omega na Colombo e matam uma menina pq tirava um racha "de boa". Ou que acharia engraçado pegar uma toalha num carro em movimento e dar nas costas de um trabalhador que volta pra casa de bicicleta. E por que não, se o lance é diversão, queimar um índio ou mendigo que dorme na rua, ninguém se importaria mesmo.
Animais.
Ps: sim, estou extremista nestes últimos textos. Fazer o que, é a vida...Ainda acredito muito no diálogo, mas só com seres que possuam cérebro. Tá, isso é falacioso. O lance do diálogo tem que funcionar inclusive com animais como este.Coisas a se pensar.
4 comentários:
fiquei com medo de vc agora Marcaum!!ahahaha...
o foda eh isso..vc reclama e quem perde a vontade de comer eh vc!! tbm sou assim..aum gosto de cobrar aquilo q deveria ser obrigação de tds!!
deveria ser obrigação.. não tiro nem ponho meu caro corretor!
:p
abraços!
Olha que legal, vou discutir com o Marcão!!!!!
Nobre amigo.
Tá eu fico puto também quando você fica quase uma hora na porra da fila pra um espertinho chegar na minha frente e em minutos estar todo satisfeito com sua refeição. Regras devem ser seguidas e não por estudantes de Direito apenas, tipo eu faço filosofia, então fico pensando no que é o mundo e esqueço de tomar banho, crio um chiuaua na cabeça e uso a mesma roupa o ano inteiro???
Esses rotulos irritam e atrapalham.
Enfim o meu medo é que estas regras se tornem um grilhão que carregaremos pra sempre. São tantas coisas que parece que nunca encontramos nossa propria vontade no meio de tudo isso. Virar escravo do estudo, das regras e coisa e tals. Tem que ter a porra do caminho do meio que Buda fala mas é tão mais fácil na teoria!!!
Abração
Meu caro Ciro, antes de tudo seja bem vindo. Digo-te que não há meio termo entre vc se sentir desrespeitado por alguém que fura fila e seu temor de regras como escravizantes, por mais que precise de um meio termo. Pq regras, como propõe o nome, precisam ter valor absoluto, ou não seriam regras - e aí falamos numa pretensão de valor absoluto, pois nunca, e acho que dae tua liberdade está salva, tais regras submetem de fato a n ser por vontade. Ou seja, vc não pode negar o caráter das regras ou leis, como preferir, concordando com elas. O que não implica em obedecê-las quando se discorda. Nossa sociedade é, bem ou mal, fundada numa preeminência do indivíduo sobre o todo, e minhas alucinações de poder (mesmo que textuais) retira dae seu fundamento - sou meio idealista por culpa do cristianismo, resumindo, rs. Bom, se isto for pressuposto, a liberdade do ser humano é restringida, mas somente de acordo com a vontade de cada um.
"Ah, mas se vc desobecer as leis brasileiras alegando ilegitimidade vai preso do mesmo jeito".... É fato, mas ocorre por necessidade este cerceamento da liberdade individual. Agora, admitir que o Estado possui justificativa para restringir a liberdade não é o mesmo que dizer que possua uma justificativa suficiente, e talvez por isso mesmo me enquadraria num anarquista, se levasse este tipo de análise a sério.
E ainda remetendo à Sartre: somos condenados a ser livres. Chavão, mas para mim verdadeiro. Vc sempre pode optar em como lidar com as regras, elas serão grilhões caso vc escolha assim.
no mais, n entendo de budismo :p
abraços
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