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segunda-feira, 1 de março de 2010

A todos os convites e músicas, cafés e conversas...


Foi a primeira vez. Em dois meses, sempre as condições estiveram lá. A um observador mais atento caberia apontar que antes de receber o resultado das provas já sabia do destino que me aguardava. É fato; mas fato leviano como uma prosa sobre outrem. Soubera do resultado há dois meses, distantes dois meses. Olha, diria alguém, você se preparou o ano todo para este momento; estudou, se absteve de muitas coisas que queria, tomou as rédeas da tua vida como muitos duvidavam que pudesse, e tomou o rumo que é teu por direito, cabe agora não abandonar a luta; portanto, não se espante agora, não se amedronte agora, não esqueça aonde quer chegar.  Mas somente agora, a uma semana da ida, senti que de fato estou indo. Somente agora o espanto em deixar o lugar que cresci me tomou claramente; claro, como meus melhores pensamentos. De uma lucidez rápida como um piscar de olhos.


Como explicar? Poderia dizer que começaram as despedidas, e que se sabia que iria algum dia, este saber somente agora é sentido por aqueles que me cercam. Ou poderia relutar nas análises e ficar unicamente com uma descrição do momento: noite posta, a avenida São Paulo clara e vazia com cheiro de orvalho,  uma carona que se tornou costumeira,  e  a companhia prazerosa no silêncio e na conversa. Eu simplesmente não sei descrever, não sei explicar. Não sei me explicar. Dois meses, e somente agora sinto que estou indo. Dois meses, e estou sem palavras como a muito não ficava.


Sinto que estou indo. Sinto não de arroubos retóricos, não em conselhos de bons modos, não naquele discurso que repito para as pessoas que se preocupam comigo e que procura amenizar esta preocupação. Sinto na alma. Sinto no olhar de cada um. Sinto também nos conselhos de bons modos, e em toda a preocupação, o carinho, o tapa nas costas ou o abraço mais forte. Sinto que agora as palavras de vai dar tudo certo, estou preparado, tenho já vinte e quatro, e todas as outras que soltei nestes dois meses já não me saem com tanta facilidade à boca. Sinto que não tenho a certeza de que meu futuro será melhor, não obstante passe isto para todos aqueles que precisam ouvir. Sinto que qualquer justificativa para consolar os outros, agora, é difícil. Sou eu quem precisa de consolo.


Talvez isto tenha ocorrido pois passei nestes últimos três dias de organizador de despedidas do senhor Marco Aurélio para o Marco Aurélio que se vai. E vejam só: este aí não está lá muito tranqüilo. Não estou organizando a viagem do Antônio, do João, do Francisco. Não é deles as roupas que irão para a mala, os livros encaixotados e o quarto deixado para trás. Não serão eles quem deixarão o verde que cercou minha infância e em algumas horas terão à frente um verde e cinza, azul e vermelho, gente que fala cantando. Sou eu. É a mim que as palavras de carinho se dirigem. Desta vez, a viagem não será de uma semana.


Lembro da minha primeira “viagem” sem minha família. Foi até Toledo, num seminário de filosofia. Pelo seminário mesmo nem iria, meus estudos sobre Platão tinham já ido pro saco. Mas era presidente do centro acadêmico, conseguimos um ônibus pela primeira vez na história da augusta instituição, e por mais que não estudasse mais Platão, sempre gostei de filosofia. Cinco dias. Tinha dezenove anos. No meio de lembranças de boas palestras e da busca por uma cachoeira nunca encontrada, surge uma que agora serve ao contexto. Eram só cinco dias. No terceiro, sentei sozinho e chorei, e odiei o oba oba, o quarto coletivo, a distância das vozes que de memória lembro cada timbre. Engraçado? Ridículo? Pode ser. Mas foi a primeira vez que não tinha minhas duas caçulas ao lado, ou meus pais.


Tal momento teve lá sua duração, passou logo. De lá pra cá, viagens foram feitas, viagens foram desfeitas. Conheci a gentileza dos catarinenses, a felicidade enlatada dos paulistas, os sonhos de alguns curitibanos e, por que não, a cantoria séria do dialeto porto alegrense. De tudo isso, voltei. Sempre à casa, ao verde, às ruas planas e molecada que brinca na praça; sempre aos amigos da roda, aos sonhos de cada um, às risadas em conjunto; sempre à barba do vô, aos pães caseiros da vó, à ida ao sítio com o tio na sexta. Sempre voltei às minhas caçulas; sempre à mãe, e ao pai. Mas agora é diferente. Vou, e levarei comigo somente lembranças e princípios. Por que raios estou deixando tudo o que eu amo?


Não vou escrever mais. Não dá. Não quero.

8 comentários:

Rudah A. L. disse...

Preferi responder lá no meu blog (mais estiloso... hahahahhahahah).

Abraço!

Tomazini disse...

muito estiloso a resposta no blog do rudah... quem me dera ser tão eloquente quanto

deixo aqui apenas meu mais sincero comentário: o gordinhu tá com mediiiiinhu... kkkkk .... q munitinnnnn kkkkkkkkkkkkkkkk

ps: nunca senti cheiro d orvalho na são paulo

Tomazini disse...

só pra complementar: estava num dia inspirado (mais conhecido como sem nada pra fazer) e li os dois posts

heheheheheheheh

Rudah A. L. disse...

Pra ser sincero eu tbm nunca senti cheiro de orvalho na SP, tava mais pra algo como fumaça de ônibus e afins... ahhahahahhahahahahaha

Valeu, Tomaz!


Abraço, povo de deus!

Marco Fabretti disse...

puts, é só eu sair fora pro povo zuar, carai

haiuhaiuhaiuahia

abraços

Marco Fabretti disse...

Ma,

fiz um blog..tem foto tua lá..


e compra um chippppppppppppp!

:*

Lih disse...

ops..agora sim..com o meu login..

bjks

Marco Fabretti disse...

passa o link neh, :p

bjos