'Ando tão a flor da pele,
que meu desejo se confunde com a vontade de nem ser.'
que meu desejo se confunde com a vontade de nem ser.'
A lua em meia volta dá seu oi iluminando minha janela, à meia altura. Se vira para o morro que um dia chamei árvore de natal, isso que a gente chama e se esvai e que chamando de novo já não é. Meu quarto está escuro me observando secar do banho estirado na cama, Zeca Baleiro inundando calmamente o quarto. Celular ao lado, pode ser que ela me ligue. Engraçado que a pouco tempo atrás estava convicto em escrever algo sobre ser professor, o primeiro dia na escola expurgou de mim o sentimento de vazio que tenho sempre que volto sozinho para esta cidade. Sim, sozinho. Se Saramago está certo e a verdadeira solidão é estar longe da própria casca, sou só a cada vez que deixo o que amo a mil quilômetros de distância e sorrio para um vôo que nem ao menos me surpreende mais. Vazio de gente, da minha essência, eu casca distante. A mala por desfazer me lembra que voltei a pouco. Me escondo no que posso, e o que posso é agora professorar. Nesses termos talvez seja possível uma surpresa por parte da profissão, e tenha sorvete numa reunião de ois, como vais, e as férias. Talvez, e somente talvez, eu fique docemente agradecido pela sala de aula que acabaram de pintar por mim, e entre nela bobo feito menino que ganhou bola nova. Talvez me venha a vontade de falar sobre como me deixou de pesar os ombros por resoluções advindas, terminar o mestrado no meu tempo, deixar a profissão se calhar e eu não puder fazer diferença alguma. E talvez, para completar o rol, minha chefa diga a todos que esse ano é de confirmação, de resgatar nosso papel, de nos reencontrarmos com a profissão – eu que nem me achei. Uma mãe sai do grupo sentado e nos diz que suas filhas estudaram ali, e o quão foram seus mestres importantes para chegarem onde chegaram, e que nunca devemos desanimar desta missão que é educar o jovem de hoje, por desrespeitoso, sem noção e sem pais presentes que seja – tradução minha, óbvio. Gente, será que sonambulei por aí expondo meus medos todos, e querem me remediar logo em público? Penso em escrever algo sobre professorar. Dar de mim o que se pode. Estudar, e estudando ser exemplo. Me importar com as crianças que passarão por minhas mãos. Se um dia largar a profissão, que seja claro a inexistência de sentimentos de rancor ou desinteresse. Será, como sempre foi comigo, por não dar conta. E quando não dou conta, não dou, abandono. Julgo coragem o que muitos alardeiam covardia, mas são outros poréns estes que aqui se desenrolariam.
Uma voz que acho ser Gal Costa canta com o Baleiro. Ela ainda não ligou, eu desnaturado liguei muito tarde, fazer janta sozinho dá trabalho. Vou dormir, não há mais o que dizer. Procuro o vídeo no você tubo, como diria o Gomes, e confirmo a parceria. Fiquem com o vídeo, compensa. Ricardo Reis e sua morte me esperam, e entremeios as lembranças de uma boa conversa com um amigo ou um sorriso da pequena.
2 comentários:
Que lemalcólico vc heim.......quem sabe larga tudo e vai para a sua SANTA CIDADE, e deixe essa cidade que é a minha....e que por sinal abriga os "desinteressados"......
que eu saiba porto alegre não tem dono; que eu saiba é melancólico, não lemalcólico; que eu saiba você não conhece maringá para poder dizer se é santa ou não; que eu saiba desinteresse foi usado num contexto que não é o que vc entendeu, pra variar.
enfim, se é ódio o que vc tem eu dispenso que leia os meus textos. eles não te dizem respeito.
passar bem
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