Quando deixamos de nos surpreender com o mundo, temos ainda salvação? Acho que sim. É só subjulgar o cotidiano que nos subjulgou. Se não podemos escolher ter ou não o cotidiano de uma vida adulta chata - preciso morar, comer, dormir, ter plano de saúde, ser emocionalmente 'apagado', etc. - ao menos podemos tentar superar este cotidiano. Como? Assimilando-o de tal forma a deixá-lo no piloto automático para que as coisas importantes possam voltar à mente. É fácil? Não o parece para mim. Mas ao menos há uma direção possível para sair do insosso que me levará mais dia menos dia a prestar um concurso para um cargo burocrático qualquer que chancele a evidência do mundo - mensurável, controlável, rotineiro - e abandonar a prática docente.
Ora, como eu vou ensinar filosofia a alguém se eu não filosofo? Se estou mais preocupado em dizer em qual restaurante há uma boa comida do que compreender o que sou e para que sou? Se não dialogo com os caras fodões que pensaram sobre isto e deixaram seus melhores pensamentos a nossa disposição? Há que se superar a droga de vida responsável adulta para que a adolescência, ou infância, possam retornar em meu lidar com o mundo. Um potencial que não se atualiza é nota de rodapé do grande dicionário de manias bovinas.
Ou é assim ou ensinar filosofia é a maior hipocrisia que alguém pode cometer contra si mesmo. Para que a terceira pessoa? Há um "eu" mais que implícito em tudo isso. É só se ter a coragem de aceitar.
2 comentários:
Seu hipócrita maldito!!!
Não sou mais seu amigo! hahahahahahhahahahahahahahahahahaha
Bicho, relaxa! Aquela ideia do primeiro ano de facul, que seríamos fodões com pós-graduação nas mais diversas e melhores universidades do mundo e que um dia entraríamos em sala de aula, colocaríamos as melhores ideias nas mentes pré-dispostas dos nossos exemplares alunos, é algo utópico e ficou no primeiro ano.
Por outro lado, a educação brasileira é vergonhosa e pessoas como você que pensam em como mudá-la pra melhor é algo necessário.
Ainda assim, pensar filosoficamente, não cair numa rotina mundana e ganhar dinheiro são problemas do nosso cotidiano.
Cabe a você escolher, se ganhar dinheiro e ler os grandes autores por prazer é melhor do que tentar mudar, mesmo que o mínimo, a condição da educação.
Tudo muito óbvio o que estou tagarelando aqui?! Fato. Mas a vida de concurseiro é uma merda.
Se é pra ganhar grana, façamos como os milionários por acaso.
Só nos falta uma ideia milionária e Ibiza estará a nosso alcance!
Abraço!
cara, como assim não é mais meu amigo? vc ainda me deve uma grade de cerveja atualizada pela inflação vigente - a mim e ao thiaguinho - e, enquanto não saldar a dívida, te proíbo de cortar relações. :p
e sim, era utópico, mas nem tanto. ser fodão n é tão difícil, estou numa pós graduação numa universidade que se não está entre as melhores do mundo ao menos o é no brasil; e entrar em sala de aula e colocar as melhores ideias na mente dos meus alunos, cara, juro pra ti, é isso o que tento, ainda que a eficácia esteja aquém do esperado. já aos alunos exemplares realmente é utópico, mas não diria o mesmo das mentes pré dispostas - eles são adolescentes curiosos e, dado o incentivo certo, produzem e pensam em coisas bem legaizinhas. O problema é que não tem apoio familiar, na maioria dos casos, ou ao menos uma presença que valorize a educação - sintetizando, a maior parte dos buracos que tem na formação de meus alunos me parece surgirem da família. Se teu pai ou mãe n sentam contigo pra fazer uma tarefa ou acompanhar ao menos se faz, se mandam vc pra escola pra ser educado num sentido que caberia a eles educar, se não dizem que ler um livro por mês é algo desejável, se forçam vc a cuidar dos irmãos mais novos ao invés de estudar..... enfim, não há professor ou método que dê jeito, ao menos como eu vejo como ideal. Jeito sempre se dá, e há pessoas muito qualificadas trabalhando comigo que tem a mesma preocupação que tenho. Furar os limites do contexto e repensar em métodos para que a educação ofertada forme de fato cidadãos é algo que pulsa forte na minha escola ao menos.
Claro que isso se dá, ao que me parece, pela valorização do professor aqui. Foda é saber que tenho ótimas tias professoras no Paraná que ganham inicialmente metade do que ganho com uma carga horária maior e que mesmo assim fazem um puta trabalho. Agora, queira ou não velho, veja nosso curso, quem são os expoentes que foram lecionar? Lidar com 40 alunos em sala de aula pra ganhar 800 reais não atrai os mais espertos, é fato. E ae como haver mudança na educação se os professores passam por uma seleção natural às avessas? é complicado.
Portanto, meu caro, não concordo com a obviedade apontada... acho que há muitas nuanças no contexto educacional, mas concordo com o fato da educação ser vergonhosa, e alguém tem que trabalhar, como já se trabalha no caso dos educadores que permanecem na carreira por amor e não por incompetência, para reverter a situação. Veja que se aqui há condições melhores de trabalho é pq alguém reinvindicou e conseguiu que se elencasse tais condições. Haveria uma discussão paralela aqui sobre meu otimisto quanto ao caminho que vamos, enquanto nação, traçando, mas acho que não cabe aqui, apesar de podermos sem sombra de dúvida discorrer sobre com prazer.
Agora, que poder ler por prazer e tem uma conta bancária gorda no banco seria bem interessante, seria... e ae eu ensinaria até de graça, pois este é o sentimento que surge de uma leitura que se engendra na vida cotidiana. Não há, na minha modesta opinião, se envolver com a filosofia e não se tornar alguém preocupado com a tal da paidéia, e claro que aqui sem doutrinamento algum a não ser por um espírito crítico.
só para não me estender demais (hauihaiuahiuahiua), não boto fé nesse lance de milionários por acaso... bah, seu utópico sonhador.
hiahihaihaiuha
abraços!
Postar um comentário