Honey honey...
A música toca no cel, que se faz
player do carro. A luz azul contrasta com o painel preto e a luz branca que vem
da rua. Preto e azul. Os carros na outra mão passam como folhas, folhas que
brilham com alguma luz que chega até mim. Mas eles são lentos.
I can see the stars all the way from
here…
A Lua escancara sua branquitude. Ofusca
a alma de tanto que brilha! Quando ela cresceu tanto? Ou seria o olhar de quem vê?
O carro se move suave, quase lento. De tanto em tanto os postes altos da rodovia
deixam seus pequenos sóis para trás. São pequenas metas, siga em frente e logo
chegará à ela. Não está cheia. Mas não precisa estar.
Can’t you see the glow on the window pane?
As janelas abertas deixam entrar a
brisa da noite, leve, suave, acolhedora. Uma mão ao volante é o suficiente. A outra
pode tatear qualquer parte do painel seguindo a batida da música. Ele não
entende bem o que ela diz, mas algo está ali. Significado no timbre, no tempo,
a harmonia invade por onde puder.
I can feel the sun whenever you’re
near…
O relógio é indiferente agora. Ele
sequer marca o tempo. O tempo vai em outro compasso. Docemente lento. Não se busca a Lua em altas velocidades, sabemos, porque
se periga chegar logo, e ver que é rocha cinza e fria. Deixa lá, brilhando com
seus halos suaves e poéticos. Não há mais relógio. Quando sabemos que o tempo
para?
Everytime you touch me I just melt
away
A voz que canta se torna rouca,
malabares sutis ao ouvido. Tenho certeza que a Lua está dançando. De leve, a
jovem senhora, contida. Mas sorrindo. Você consegue ver?
Now everybody ask me why I’m smiling up from ear to ear
A estrada, sempre preta. As faixas
brancas continuam passando. O vermelho do sinal não os para, é madrugada e não
se faz preciso. Branco, preto, luz, Lua. Vermelho. Azul.
But I know, nothing’s perfect but it’s
worth it…
A mão se solta do ritmo e compartilha
a canção. Não pôde, decerto, compartilhar o resto. Mas sempre há textos
possíveis, vai da memória. Se marca fundo, fica. Se fica, se escreve. Se escreve-se, compartilha-se. Lógica arbitrária, a
razão não manda aqui. A razão que se aquiete e sinta. O vento toca a face toda.
Tchau, razão. Até amanhã. Até um futuro que não existe.
After fighting through my tears, and
finally you put me first…
Vem o refrão. Não sabia que dava
para mergulhar mais. Quem canta isso? Cover de Beyoncé. Massa. A música cresce,
escancaradamente a Lua está dançando. Minha mão toca o vidro. Um sorriso bobo
no canto da boca, Marco, é um sorriso, mas também bobo. Não passou da idade? A
ironia consigo só serve para repostas atravessadas de um Marco a outro. Qual
deles ganha? Eu arbitro, acho bem bom. No final, o caminho termina.
Doce caminho. Guarda consigo,
reverbera a noite em pequenos versos. Ele não sabe quem é Beyoncé, pensa de olhos
fechados. É seu último pensamento, venha sono. Quero pensar em nada. Mas talvez
ela seja boa, essa moça. Fez a Lua dançar... que moça? Tudo é um borrão agora. Quando aprendeu a flutuar? Até amanhã. Um primeiro pensamento de domingo. Mas essa é outra história.
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