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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

3 minutos

 

Honey honey...

A música toca no cel, que se faz player do carro. A luz azul contrasta com o painel preto e a luz branca que vem da rua. Preto e azul. Os carros na outra mão passam como folhas, folhas que brilham com alguma luz que chega até mim. Mas eles são lentos.

I can see the stars all the way from here…

A Lua escancara sua branquitude. Ofusca a alma de tanto que brilha! Quando ela cresceu tanto? Ou seria o olhar de quem vê? O carro se move suave, quase lento. De tanto em tanto os postes altos da rodovia deixam seus pequenos sóis para trás. São pequenas metas, siga em frente e logo chegará à ela. Não está cheia. Mas não precisa estar.



Can’t you see the glow on the window pane?

As janelas abertas deixam entrar a brisa da noite, leve, suave, acolhedora. Uma mão ao volante é o suficiente. A outra pode tatear qualquer parte do painel seguindo a batida da música. Ele não entende bem o que ela diz, mas algo está ali. Significado no timbre, no tempo, a harmonia invade por onde puder.

I can feel the sun whenever you’re near…

O relógio é indiferente agora. Ele sequer marca o tempo. O tempo vai em outro compasso. Docemente lento. Não se busca a Lua em altas velocidades, sabemos, porque se periga chegar logo, e ver que é rocha cinza e fria. Deixa lá, brilhando com seus halos suaves e poéticos. Não há mais relógio. Quando sabemos que o tempo para?

Everytime you touch me I just melt away

A voz que canta se torna rouca, malabares sutis ao ouvido. Tenho certeza que a Lua está dançando. De leve, a jovem senhora, contida. Mas sorrindo. Você consegue ver?

Now everybody ask me why I’m smiling up from ear to ear

A estrada, sempre preta. As faixas brancas continuam passando. O vermelho do sinal não os para, é madrugada e não se faz preciso. Branco, preto, luz, Lua. Vermelho. Azul.

But I know, nothing’s perfect but it’s worth it…

A mão se solta do ritmo e compartilha a canção. Não pôde, decerto, compartilhar o resto. Mas sempre há textos possíveis, vai da memória. Se marca fundo, fica. Se fica, se escreve. Se escreve-se, compartilha-se. Lógica arbitrária, a razão não manda aqui. A razão que se aquiete e sinta. O vento toca a face toda. Tchau, razão. Até amanhã. Até um futuro que não existe.

After fighting through my tears, and finally you put me first…

Vem o refrão. Não sabia que dava para mergulhar mais. Quem canta isso? Cover de Beyoncé. Massa. A música cresce, escancaradamente a Lua está dançando. Minha mão toca o vidro. Um sorriso bobo no canto da boca, Marco, é um sorriso, mas também bobo. Não passou da idade? A ironia consigo só serve para repostas atravessadas de um Marco a outro. Qual deles ganha? Eu arbitro, acho bem bom. No final, o caminho termina.

Doce caminho. Guarda consigo, reverbera a noite em pequenos versos. Ele não sabe quem é Beyoncé, pensa de olhos fechados. É seu último pensamento, venha sono. Quero pensar em nada. Mas talvez ela seja boa, essa moça. Fez a Lua dançar... que moça? Tudo é um borrão agora. Quando aprendeu a flutuar?  Até amanhã. Um primeiro pensamento de domingo. Mas essa é outra história.

 

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