o professor, sobre a homenagem ao filósofo: "Descartes não precisa que alguém o copie. Seu pensamento é maior do que isto."
Fera, como diria o Thiaguinho! Eis aqui sintoma de boa aula: me leva a escrever sobre ela. De fato, para me dispor a dizer o que Descartes disse, dou o livro ao aluno e pronto: tá lá tudo o que ele precisa saber. Por que 3 horas de análises lógicas de um texto morto? Para que o tempo perdido em um conjunto de proposições sem significado algum?
Ah, minha cara Angélica, filosofia não é ociosidade! Somente para aqueles que não vivem o pensamento que têm em mãos (tá, o "têm", segundo novas regras do português, já não é acentuado, me lembrarei disso - assim como perca é pra verbo e perda é substantivo, hehe). Não seria, no fim das contas, papel do professor fazer com que seus alunos justamente vivenciem o pensamento? A físis dos gregos, sua paidéia, seu télos, o valor de seus mitos; a força de um Sócrates, Nietzsche lhe impunhando a espada; a lógica aristotélica, mãe de toda ciência e da fuga do ser para o reino das categorias; filósofos, sofistas ou poetas: quem no fim tinha razão? Ah, o desejo de saber dos arábes, sua fé impregnada em seus textos; o desejo de saber dos modernos: a fé transplantada no homem - o desejo de saber dos nossos: nossa falta de fé, nossa necessidade dela; eu transcendente e o mundo esquecido, o mundo reinante e o papel em branco: idealismo e realismo se batendo, Kant os conciliando - ou tentando.
O romantismo nos trazendo de volta ao mundo, e aqueles que faziam ciência só em aparência aqui continuavam - já estavam nos mais distantes mundos matemáticos. O homem e sua consciência de classe, ganhou-a tão rápido quanto a perdeu. O velho paradigma sujeito objeto que insiste em fazer parte da nossa estrutura, e o qual insistimos em não nos deixar resumir. A ontologia revista, a ética sempre pendente de um valor universal - que bom! O retorno da religião, o surgimento dos fanáticos sem Deus - suspeito que no fim das contas nunca houve fanáticos com Deus. Ah, a beleza do verbo religare: as sutilezas de um professor Paulo para nos dar um sentido tão mais ameno para religião! Quanta história pra se contar! Quanta coisa pra se viver!
E seria outra coisa? Filosofia é viver intensamente a realidade do mundo, e isso nunca implicou na primazia da razão; ela só é instrumento: o discurso filosófico é sempre argumentativamente elaborado, mas sua mensagem transcende em muito sua forma. O irracional é marca do homem, tanto quanto sua racionalidade - afinal, o velho clichê ainda é válido: não somos máquinas. O mundo todo nos transcende a linguagem, e nossa razão nunca o abarca por completo: precisa de mais para dar valor ao que cada ser humano sente? Somos um estar no mundo, e a percepção de nós e deste mundo nos torna livres, e condenados: condenados por sermos consciências do que somos, livres pelo mesmo motivo.
Quantos bons não buscaram a compreensão de seu mundo? Os melhores entre nós nos deixaram marcas, mas estas estão só para colorir: marca do homem já tá nele quando nasce, mesmo que quando cresça ele a renegue. Todos pensamos, afinal. Não dá pra saber de onde viemos, mas que temos uma forma parecida, ah temos. Vai saber... O importante é que, parecidos que somos, pensamos, choramos, sentimos da mesma forma, ou pelo menos assim faz parecer textos como este. Quem dera eu pudesse me contrariar e abarcar o mundo todo com as palavras! Mas não posso, e é a graça. Fica assim então, hehe:
Não copiemos Descartes! Vivamos, e deixe que uma hora ele se torne útil nesta caminhada.
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domingo, 18 de janeiro de 2009
Interpretações de aula 01, ou "A homenagem ao filósofo"
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