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domingo, 18 de janeiro de 2009

Interpretações de aula 03

As categorias de Kant são as mesmas categorias de Wittgenstein, e como em Kant, são condições, são limitações: de conhecimento do mundo. Aquilo que é cognoscível (Kant) ou 'dizível' (V ou F, bipolar: Wittgenstein), o é delimitando-se aquilo que não o é. Mas tais condições que nos levam às categorias unindo ambos os filósofos são vistas sob perspectivas (origens) diferentes. Para um, o início são os sentidos, pois seu problema é conhecer (acrescentar a noção 'objetivamente' seria redundância?); para outro, ficamos na linguagem, o problema é lógico. Um fala de intuição sensível, o outro de bipolaridade da proposição. Mas ambos excluem o metafísico, o místico. Sobre aquilo que não é dado por uma intuição sensível não posso conhecer - tenho fé somente; sobre aquilo que não é mundo, caso, fato possível, V ou F, não digo nada, mostro - fico na mística.
Mas esse elo de ligação (as categorias como condição de possibilidade, que remetem-os a uma transcendentalidade) é abandonado por Wittgenstein: ela abandona a universalidade das ditas categorias. Esta universalidade é necessária se tentar-se ligar o mundo e a lógica (numa teoria da representação); mas se a lógica tomar-se somente como condição de possibilidade, a ligação com o mundo (0 ser da cadeira na proposição 'a cadeira esta entre mim e ela') é desnecessária, a figuração é arbitrária, contingente. Se aceitarmos a universalidade das categorias, incluir-se-ia a categoria de substância, e dai teríamos a necessidade de um referente (como Kant implica da noção de temporalidade do sujeito pensante), e disso um ser, e disso uma ontologia... A questão é: se as categorias não são universais, podem ainda chamarem-se por categorias?

Com a abolição da universalidade das categorias, Wittgenstein entra no rol dos contemporâneos que tentaram sair do maniqueísmo "absoluto x relativo"; no máximo, admite-se uma tendência à universalidade, universalidade que não se alcança - há boas razões para a lógica se ligar ao mundo, mas a representação não é necessária; há boas razões para uma Ética, mas ela não é absoluta. Temos pressuposta uma racionalidade em processo de reconstrução e que busca maior abrangência para lidar com o mundo: ela não busca ser absoluta. Seria assim marcada a razão comunicativa de Habermas, seria assim marcada quando Wittgenstein fala sobre uma categoria não universal.

Pulemos um pouquinho para Heidegger: ora, temos nele uma visão diferente de representação. A questão não é se a representação é necessária ou não, se é assim ou assado. O problema é que tal representação - a ligação da proposição com o mundo - se dá como uma forma de limitar o ser, que transcende a linguagem. Categorias são as únicas formas que temos de alcançar o ser, torná-lo ente é uma mal do qual não podemos fugir. Mas isso não implica, como fizeram na história da filosofia, que o ser seja esgotado por estas categorias: seria um contra-senso, como a introdução de Ser e Tempo indica. Categorias, formas do objeto possíveis, representação clara e distinta: são momentos posteriores e meras delimitações de um ser que se apresenta a nós, que se mostra - depois disso é que re - apresentaremos este ser em nossa mente. A linguagem, como quer Wittgenstein, é limite do ser, se afigura como condição de sua possibilidade - Heidegger não parece negar esta tese, pelo contrário. Tanto em Heidegger como em Wittgenstein, a linguagem é a morada do ser, seja como fato que se dá ou como existência que se desvela através de. Me pergunto, agora, se Wittgenstein vislumbrou essa transcendência do ser apontada pela diferenciação ser-ente heideggeriana... bom, fica para as próximas aulas, as quais, pelo seu fim, fazem-me sentir muito: filosofia, no fim das contas, não se resumiu a aulas chatas de professores sem paixão.

(Por que será que existem professores que conseguem tirar o máximo de todos os alunos? Acho que, já que o blog é meu e achismo é o que há, é porque eles são pessoas felizes com o que fazem, não o fazem por mérito, por cargo ou para, como diria a maíla, saber quem tem o pipi lógico maior... Ou talvez o errado da história fosse eu, ueh... pena descobrir isso no último semestre)

Bom, e o Merleau Ponty? Ah, meu, tá bom de notação da aula por hj...

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