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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

No posto

Agora, aos amigos. Pena ter perdido os comentários...

Era noite de quinta, calor fora dos eixos para um inverno e um posto com muita gente para que eles se sentissem a vontade nas mesas. Foram para uma mureta, papo bom não precisa de muita gente:
- Meu, entre uma grade de nova schin meia boca, ou uma galera pra tocar a “ferveção”, e três brahmas bem geladas num local sussa, qual ce escolhe?
- As três brahmas.
- Eu também.
- ...
- Tamu ficando velho.
- Pois é.
Pois é, pensaram. Agora já não eram muleques de 16, e a ansiedade pelo mundo real começava a fazer sentir-se. Mas não mais como aos 16. Eles já não sairiam para beber no modo “esponja – acabemos com a cerva do mundo!” (talvez em derradeiras horas, e olha lá); descobriram que podiam ver de outras formas as coisas que viveram juntos, e as que não. Perceberam que dar moral pra calouro de filosofia é fomentar bichos grilos malditos: deixem que leiam alguns textos primeiro e encarem umas boas aulas de lógica – os que não pirarem fumando talvez mereçam alguma consideração. Podiam rir de um centro acadêmico que fizeram, sem precisar dizer isso a ninguém, sem precisar provar nada a ninguém: só rir avermelhados do esporro que tomaram na sala da “diretoria” por causa da sala de micro, da idéia de construir a sede do ca com investimentos da votorantin, de trazer o benito de paula (nem lembro mais se era ele..) pra tocar no marista só porque nós tínhamos uma conta bancária...
É, agora eles já não tinham 16. Os vinte também passaram, e com eles colegas que foram ficando no caminho... Baratão tava por aí, papai, doido como só ele, sempre um dos nossos. Maurice? Este talvez tenha sido o mais brilhante aluno de filo a não concluir o curso. Matias? Puts, que figura. Discomuna: o cara mais irresponsável e mais sussa que eu já vi na vida, e um dos maiores corações também. Thiaguinho? Meu, o primeiro professor de carreira da turma! E o melhor secretário come quieto que alguém poderia escolher – orgulho do rapaizinho. Orgulho do Fabiano também, como não? O filha da mãe entro na Unicamp e dispensou bolsa da Puc, sempre naquele ritmo, na sede de acreditar em si mesmo, e detestando ver nossas tirações de sarro pseudo religiosas: Deus nunca foi a questão meu caro, só posturas. Juzinha e Carola – passavam férias em Maringá, as duas. Anderson, o indie; Nathália, o centro do mundo! Nossa cara presidenta, que acabou se achando no meio do curso; meu, é muita gente... Muitos cafés, muitas aulas matadas, muitos trabalhos feitos em cima da hora, muitos risos, muitas posturas...
E agora tavam ali, vendo de longe tudo isso. Um formado, o outro a se formar. A cerva era a mesma, o posto era o mesmo; o calor sempre foi o mesmo. Só os dois já não o eram. Um passara de mestre da pára-consistência a funcionário do serviço público federal ultra burocrático em potência, o outro da metamorfose ambulante de mil faces e mil fazeres a uma face cada vez mais quieta, interior. O peso da vida adulta começava a ser sentido por um, e no outro começava a deixar de sê-lo. Os dois estavam deixando as idealizações de lado, substituindo-as por metas alcançáveis – no amor, inclusive: encontrar a pessoa certa é misto de sorte e trabalho, em um estar bem consigo, e outras tantas coisas que podiam sentar e conversar por horas a fio, sem se cansarem.
Tinham a verdade do mundo? Não, só estavam mais maduros. Mas aquela brahma gelada, ah: a maldita continuava igual! E Deus fez a cerveja! E nossos filhos seriam lindos, de pais ricos e mães gostosas.
Talvez não tivessem mudado tanto assim.

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