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domingo, 10 de maio de 2015

É dia de mães

Hoje é dia das mães. É motivo para escrever, pois é meu primeiro dia das mães como pai, numa sensação de dia das mães diferentes de tantas outras que já vivi nesses vinte e tantos anos. Geralmente, não valorizo muito datas como essa. Fico naquele grupo pequenino e chato dos que acham todos os dias cabíveis de comemoração, contrariando o senso comum cultivado por propagandas e afins. Há um dia de pai e mãe em cada dia, a cada minuto de vivência com a cria. Assim como espírito natalino e páscoa deveriam permanecer por mais tempo em nossas mentes e menos tempo em nossos bolsos.

Isso não faz de mim, ao menos espero, um pecador maldito que odeia mães, pais, símbolos cristãos e por aí vai. Só alguém que ignora o apelo midiático dessas datas e que, por isso, pode passar por indiferente. Faço o mea culpa depois de descobrir não da melhor forma que um "feliz dia da mulher!" se fazia necessário à minha pequena naquele fatídico dia, e nem todas as explicações de que era o dia de minha mulher todos aqueles em que estivesse ao meu lado adiantaram. 

Prefiro comemorar aniversários, sua ilação com uma mercadoria qualquer é feita a posteriori, nenhuma loja de presentes tem a prerrogativa sobre um nascimento. Ainda aí, poderíamos alegar que se comemora a cada dia de vida um aniversário, e então os minutos, e então... conheces o significado de infinitesimal? Iríamos por aí. Mas há outra vantagem em aniversários: sua singularidade. Dificilmente pessoas amadas e importantes para nós aniversariam no mesmo dia, então não preciso me preocupar com o gênero "aniversariantes" quando dirigir alguma palavra de carinho a elas. 

Ainda sim, é dia das mães, e sobre mães é que escrevo agora, ainda que me desmintam os parágrafos anteriores. 

Escrevo sobre Teresas e Karens,  e todas as suas possibilidades. Sobre a dor do parto, a coragem necessária, a força que supera qualquer homem. Escrevo sobre o amamentar madrugador, as horas de insônia e o braço forte que sustenta o filho. Escrevo para contar de relance o amor incondicional de alguém para outrem, sussurrado em canções de ninar por timbres docemente cansados. Escrevo para dizer que há sorrisos fáceis no mundo, e sorrisos simplesmente necessários, em todo o grau filosófico que necessidade implica. Escrevo para contar ao mundo que um toque daquela mãozinha do peito que a amamenta é uma das cenas mais doces que um ser humano pode ver, e que seus olhares trocados comovem até o mais fingidor dos homens. 

Não é por fogões que escrevo, tampouco fritadeiras elétricas de tantas e tantas funcionalidades. É tamanha a falta de poesia nesse mundo que nossa alma se apequena ao que se vende, a felicidade arduamente comprada em sacolas e carnês, a gente brincando nesse simulacro de felicidade. É tamanha a falta que nem conseguimos dizer com certeza o que nos poderia preencher, e de poço fundo e curtido passamos a riacho raso e efêmero. 

Mas não posso ser efêmero ao falar de mãe. Não, não de minhas mães, que começam com Izolindas e Marias, perpassam por Noêmias e Luzias, desembocam em Lígias e Larissas.  Seria pecado mercantilizar todas elas, e tudo o que há por trás de todas elas, e tudo o que há por dentro. 

Prefiro falar sobre essa essência misteriosa contida em minhas mães queridas, uma inebriante sensação de calor e aconchego cantada como campos dourados de trigo numa primavera amena, o Sol a tocar nossa face aquecendo da pele à alma, e a frescura da terra deslizando entre dedos descalços. Antes, falemos de menino chorão e manhoso, que reduzia todo o ímpeto (e este foi grande) ao toque e olhar de Teresa, e suas palavras que emolduraram um caráter. E como não imaginar a brandura necessária para três filhos, três flores de cores e tamanhos distintos, mas que ao fim emanam o mesmo perfume?

Preciso, mesmo, é dizer que as amo. Que hoje é pai quem já foi filho, e ao filho tudo o que aprendeu passará. Preciso dizer que, das flores novas semeadas pelo vento, uma encontrou morada em minha pequena, a gigante que carrega tanto em seus ombros; que não poderia achar terra mais fértil, o pequeno; que é amado sem a necessidade de uma palavra sequer, e sua comunhão com ela será eterna. 

É dia de mães. Sempre será.







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