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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Caminhe

Os pés fazem o caminho. Escolhem por quais terrenos andar, se são planos ou inclinados, mais difíceis ou tranquilos. Há quem diga que é  a cabeça que comanda e são os pés pobres soldados a obedecer. Doce ilusão de controle! Os pés se governam sozinhos, a cabeça somente processa a estrada. Vão lentos numa areia de fim de tarde, apressados no concreto e no asfalto. Descalços para sentir a vida, apertados num sapato para ganhá-la; concentrados e firmes num fumikome, sustentando a espada e o caráter de quem luta, ou perdidos e desconexos numa caminhada noturna daqueles que deixam de lutar.

O caminho é construído passo a passo, o que nele está a priori que não  sutilezas de espírito, marcas de mim que tendem a se repetir mas que nunca são garantidas? Deixemos seguirem os pés por onde quiserem, não tarda o dia em que não poderão se mover. 

A vida é boa, diria meu avô de sua cadeira da qual pouco sai e que lhe aprisiona o corpo. Para mim é  como se dissesse: "caminha, meu netinho, porque ela acaba. Faz o que tem que fazer, seja correto e, se possível, passe por ela assoviando". Inúmeros causos relembrando pedaços de vida sem celular, televisão ou computador, só a lida diária de um mundo a ser vivido. Esses pequenos passos, com suas pernas curtas e rápidas... esses passos que hoje são imaginários por um corpo que não acompanha a mente: será que meus pés conseguem aprender algo com eles? 

Caminhe, Marco. Assovie se possível. Molde teu mundo com o suor do teu trabalho. Seja para teu filho um espelho onde ele se encontre, e encontre teu pai, e teu avô. Porque por onde forem teus pés, pequeninos pés te seguirão brincando de imitar (eventualmente te mordendo, fugindo para que corras atrás, pulando de um lado a outro sorrateiro). 

Só caminhe. Desistir sempre é opção, mas o quanto de você ficaria para trás?   Ninguém é deus, todos sofremos. Mas você ainda pode andar, há um Sol no céu e amor no mundo. 

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